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8 de Março é um dia dedicado à celebração das vitórias conquistadas pelas mulheres ao longo dessa história violenta e belicista imposta pelo patriarcado.

Não há concordância quanto à razão para a estipulação desta data, 8 de Março, como marco de comemoração das muitas lutas de mulheres ao redor do mundo pela emancipação e pela igualdade de direitos. Os ventos socialistas e as ideias comunistas acentuaram a necessidade de uma verdadeira luta pela igualdade de direitos entre todos os seres humanos.

Eu já discuti em outro texto, recente, que a opressão da classe dominante é uma constante na história da humanidade, com pequenas fagulhas de novos paradigmas relativos à igualdade, mas mesmo essas fagulhas ignoravam a igualdade entre os sexos. Continuavam livres somente os homens brancos.

Lá pelo final do séc. XIX, com as interpretações marxistas sobre as relações de trabalho – como o Brasil é atrasado nesse assunto, porque Marx já havia publicado o Manifesto Comunista em 1848 e o Capital em 1867 e nós ainda nem havíamos abolido a escravidão. Foi justamente nessa época que o mundo foi tomado por um vento de revolução intenso. Pois as classes dominantes foram obrigadas a ceder um pouco de seus privilégios, especialmente na Europa, para se manterem ainda dominantes, criando o Estado do Bem-Estar Social.

Por conta disso, as mulheres, principalmente as da antiga União Soviética, lutaram muito e conquistaram um bom nível de igualdade com os homens. Mesmo assim, jamais conseguiram chegar ao posto de soviet supremo.

Os feminismos nas Américas

Aqui no continente americano, as coisas não foram tão fáceis. Ao norte, os Estados Unidos da América do Norte deram às mulheres o direito de voto em 1920. Aqui no Brasil, doze anos depois e, ainda assim, era facultativo. Só veio a se tornar obrigatório em 1965 – por incrível que pareça, durante a ditadura cívico-militar.

Ao tempo da edição do Código Civil de 1916 muitos absurdos com relação aos direitos civis das mulheres viraram lei. Elas eram consideradas incapazes para os atos da vida civil, se casadas, tudo devia ser consultado ao marido; seu domicílio era o do marido; havia um prazo prescricional de 10 dias para o marido anular casamento se descobrisse que a mulher não era mais virgem; em dois meses prescrevia o direito de contestar a paternidade, pelo marido, de filho havido dentro da sociedade matrimonial; a idade nubente da mulher era 16 anos, enquanto a do homem era 18.

Havia um prazo de 10 meses para mulher viúva ou cujo casamento fora nulo ou anulado, para contrair novas núpcias; o marido era chefe da mulher, cabendo-lhe administrar os bens dela e ainda o direito de “autorizar a profissão da mulher fora do teto conjugal” e por aí vai. O catálogo de absurdos é gigantesco.

8 de Março é o Dia Internacional da Mulher

Felizmente o direito civil foi se aprimorando e acompanhando a modernidade, principalmente depois dos loucos anos 60. Foi o advento da pílula anticoncepcional que, mesmo com todas as críticas, colocou o direito reprodutivo nas mãos das mulheres. Na época foi libertador, mas hoje já se questiona sobre a responsabilidade exclusiva das mulheres em evitar a gestação.

Foram muitos avanços legais, mas a consciência ainda deixa muito a desejar, haja vista a quantidade exacerbada de feminicídios ocorridos só nesses dois meses. No DF apenas já foram 9, todos brutais, mas um especialmente estarrecedor, já que a vítima apanhou até morrer do criminoso.

A libertação contemporânea

Os movimentos de libertação da mulher ainda têm uma longa batalha pela frente. O patriarcado não se deixará derrubar enquanto todas as mulheres não se aperceberem de que elas são mães. E nessa condição, responsáveis por parte da criação de homens, não ensinarem aos filhos sobre consentimento, sensibilidade, amor, respeito e consideração.

É bem verdade que muito já se caminhou. Nos anos em que fui criança, não se viam homens sozinhos nas ruas, nos parques, nas praias, cuidando de filhos. Era uma atribuição exclusiva da mulher. Hoje já é possível ver que muitos homens dedicam parte de seu dia ao cuidado de filhas ou filhos. Mas isso ainda me parece um privilégio da classe mais abastada.

Por falar nisso, a liberdade da mulher branca acontece graças à opressão da mulher negra, no Brasil. A história de que “a avó dela trabalhou para a minha avó (foi escrava), a mãe dela para a minha mãe e ela trabalha para mim; espero que a filha dela trabalhe para a minha filha. É quase como se fôssemos da mesma família” é um discurso tão perverso, tão cruel com as mulheres que prestam serviços domésticos, e mesmo assim perpassa a cabeça das famílias burguesas que naturalizam essa crueldade em um tom de docilidade e sorrisos. Ainda acrescentam: “não sei o que seria de mim sem elas”.

Mas nem toda essa dependência da trabalhadora doméstica faz com que a burguesa queira pagar todos os direitos laborais, nem de obedecer a horários de trabalho, semana inglesa, etc.

Enfim, há vários feminismos, mas enquanto a mulher negra não for trazida para o centro do debate, tudo será mais ou menos um “probleminha de gente branca”.

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