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Pois bem, chegamos a Cusco anteontem. Essa história de viajar de pacote da CVC tem várias vantagens, dentre elas a de que mais gostei foi a história das transferências aeroporto-hotel-aeroporto. Só tem uma coisa: os voos são sempre muito cedo. Aqui no Peru, além disso, o check in nacional é feito com duas horas de antecedência e o internacional com três. Assim, como nosso voo para Cusco partia às 8h25, o transfer nos foi buscar no hotel às 6 da matina. Notem bem que aqui o fuso é duas horas mais cedo que aí no Brasil (supondo que todos os meus leitores são brasileiros).

Mas tudo bem. Partimos da cinzenta Lima para a ensolarada Cusco. O nome, como eu já disse ontem, não se deveu a um mal entendido fonético, mas antes era a capital dos orgulhosos Incas, considerada por eles o umbigo do mundo. No idioma dos Quechua, população andina ágrafa que habitava esta região, Qosqo = umbigo. Assim, muito embora os espanhois tivessem invadido e dominado a região, não consiguiram suprimir totalmente os costumes daqui.

Isso pode ser notado, especialmente, na iconografia católica. Um dos passeios guiados mais legais foi o da Catedral de Cusco. Uma imponente igreja erguida em estilo gótico, com mais de 4 mil metros quadrados de área e uma coleção de arte de fazer inveja a muito museu brasileiro. Lá descobrimos que a forma de pintar as virgens – e aqui são muito adoradas – com aquele manto triangular, era uma espécie de resistência cultural sincrética, tal como ocorreu com os negros brasileiros. Só que aqui a deusa mais popular, digamos assim, é Pacha Mama, a mãe terra. E ela é vista como as montanhas andinas. Daí, pintar as virgens (do Rosário, do Desterro, dos Remédios, das Graças, das Dores etc) com mantos triangulares, imitando a forma dos picos.

Voltando à chegada, fazia um sol de esturricar calango. Eram 11 horas quando chegamos ao hotel San Agustin International, situado a duas quadras da Praza das Armas, a mais importante da antiga capital imperial. Deixamos as bagagens no hotel e saímos para nossa diversão predileta nas muitas viagens que fazemos: bater perna até cansar. O que no caso de Cusco é mais fácil por dois motivos: a um, a altitude e a dois, só tem ladeira. A cidade está situada a mais de 3 mil metros de altitude sobre o nível do mar, o que nos obriga a tomar chá da folha sagrada dos Quechua, se é que você me entende.

O centro histórico é bem pequeno, mas as ladeiras… E tome-lhe subir e descer, andar de um lado para o outro, vendo todas as fachadas de igrejas, perambulando por ruazinhas desconhecidas, lotadas de Quechuas – não vou mais utilizar o termo índio para designar os nativos, eis que são profundamente orgulhosos da origem andina – homens e mulheres vendendo artesanato nas ruas. No começo é meio pitoresco, mas com três horas de passeio a gente já começa a ficar meio irritado. No fim da tarde, dá vontade de socar a cara deles, mas enfim, é como ganham a vida.

É tudo muito baratinho. R$ 1,00 compra S. 1,77. Pra se ter uma idéia do que isso significa, fomos a um restaurantezinho chamado Wyñay Huayna (nem me perguntem como é que se pronuncia isso), na descida da igreja de S. Cristobal, e pedimos o menu turístico, ao preço de S. 10. Tínhamos direito, por esse preço, a uma entrada, um prato de fundo e uma sobremesa. Aí escolhemos assim:

  Nelson Cristovam
Entrada Papa a La Huancaina – Batatas cozidas com molho típico da região Sopa de Quinua
Prato Principal Lomo Salteado – pedaços de filé com um molho delicioso, legumes ao vapor e arroz branco Pollo à La Plancha – Peito de frango grelhado com legumes ao vapor
Sobremesa Platano com chocolate – Banana com calda de chocolate amargo

 

A filha da dona, coincidentemente xará de uma prima, a Maristela, encantou-se com o Nelson, que ficou puxando conversa com ela, apesar de conhecer perfeitamente a minha devoção a são Herodes. Até que ela é bonitinha mesmo. Tem uns cinco anos de idade e chegou toda uniformizada, já ajudando a mãe nas tarefas do restaurante. Ficou por ali um “ratito”, como se diz aqui e depois foi pra casa.

Maristela fazendo pose
Maristela fazendo pose

 

Depois desse lauto almoço, continuamos passeando. Encontramos a Praça de Armas emolduradas pelas duas igrejas mais importantes do local, a já mencionada Catedral de Cusco e a igreja dos Jesuítas, que fica ao lado da segunda universidade inaugurada na América, sendo a primeira também peruana, além dos sobradinhos com balcões charmosíssimos.

Aliás, essa é uma das características peruanas que mais me atraem. Os balcões de madeira suspensos dos sobrados. Acho muito lindo. Já eram umas três da tarde e o tempo virou. Da canícula subsaariana para o vento glacial. Fomos ao tal mercado São Pedro, onde achei um poncho joinha por meros 30 soles. O Nelson é uma figura nesses lugares, porque o mercado é uma espécie de feira de São Cristóvão misturado com o Saara, cheio de artesanato, roupas típicas, mas, principalmente, comida daqui. Os cheiros são todos muito fortes e a rinite dele o expulsou de lá.

Voltamos para a Praça e o frio aumentou. Estava quase ficando insuportável e só eram umas cinco e meia. Já queríamos buscar os casacos no hotel quando percebemos um barulho tipo música de banda. Quando vimos de onde vinha o som, nos maravilhamos com a  procissão do Señor Huanca, ou Bon Jesús de la Ubicacion.

Procissão do Señor Huanca
Procissão do Señor Huanca

 

Eu não conhecia esse Jesus sendo chicoteado. É uma iconografia toda diferente da nossa. Mas a procissão é muito bonita. As crianças fazem uns porta-velas com papel de seda e armação de palitos, imitando animais, personagens típicos, mas também personagens de desenhos animados, carrinhos, aviões etc. Tinha até um Bob Square Pants.

Resistimos à friaca o quanto pudemos, no meio de tanta coisa linda. Só que chegou uma hora que o frio realmente apertou. A praça é o local mais aberto da cidade e sopra um vento geladíssimo. Corremos para o hotel para nos agasalharmos melhor e quando voltamos a procissão já entrava na igreja do destino. Aproveitamos para vê-la por dentro. Uma riqueza sem fim, mas impossível tirar fotos. É uma espécie de regulamentação católica no Peru. Está proibido tirar fotos em todoas as igrejas.

Depois de tanta informação, jantamos uma massinha muito simpática na av. del Sol e fomos dormir. Este foi o fim do primeiro dia.

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