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Há um ano e cinco meses retornei ao DF, depois de 15 anos na cidade do Rio de Janeiro. Lá, eu usava ônibus. Aqui dei conta quão hostil a cidade é ao pedestre.

A arquitetura do DF é hostil ao pedestre

Eu nasci em Goiânia, morei alguns anos no interior de Goiás e, aos 20 anos, graças à aprovação num concurso público, vim viver em Brasília. Na minha vida aqui, entre 1985 e 1992, vivi basicamente no Plano Piloto e por causa disso, utilizava muito o transporte coletivo. Morei em 3 endereços da Asa Norte e 2 do Cruzeiro Novo. Em 1992, me mudei para o Lago Sul e só então fui sentir falta de automóvel.

Eu me lembro muito de uma coisa que incomodava em não ter carro: se eu tivesse de fazer compras do mês, o que, naquele tempo de hiperinflação, era o costume. O salário era recebido e nós tínhamos de correr para o supermercado e fazer todas as compras.

No tempo em que morei no Cruzeiro Novo, o único mercado grande no DF era o Carrefour próximo ao Park Shopping. Eu era durango e não tinha grana pra pagar táxi para voltar com tanta compra para casa, então aproveitava quando algum amigo motorizado dizia que faria compras lá. Uma situação meio humilhante, mas ia-se vivendo.

Eu trabalhava, então, no Setor de Indústrias Gráficas, na Imprensa Nacional e, quando fui viver no Lago Sul, transpor os 25 Km entre a QI 29 e a Imprensa, de ônibus, era um perrengue. Poucos ônibus passavam por lá e em horários muito espaçados.

Naquele ano, então, comprei um carrinho com 10 anos de uso. Fui vivendo com ele por alguns anos, e, em função disso, parei de usar o transporte coletivo aqui.

A mudança para o Rio de Janeiro e a nova realidade

A vida deu muitas voltas e eu fui convidado, em 2007, a morar no Rio de Janeiro. Quando resolvi não levar meu carro, por conta da dificuldade de estacionamento, principalmente, os amigos daqui ficaram meio escandalizados. Por ter ido viver em Copacabana ter um automóvel seria, de fato, um transtorno.

Passei 15 anos no bairro e fui muito feliz lá. Eu sou um apaixonado pelo Rio de Janeiro, mas tive de voltar pra cá por questões religiosas.

Quando retornei, estranhei muito, pois vida de pedestre no RJ é muito fácil, embora esteja a anos luz do ideal. A malha ferroviária é deficitária, não atinge a maioria da população que realmente precisa de transporte coletivo, a metroviária é pior ainda, os ônibus deixam muito a desejar, mas como todos esses problemas, dá pra ir para TODOS os bairros do Rio e da Baixada de transporte coletivo. Na Zona Sul, onde eu vivia, era muito fácil, bons ônibus, metrô, táxi pra todo lado.

O choque do retorno à vida no DF

Em janeiro de 2022 eu voltei a viver em Brasília. Foi um choque. Embora a malha rodoviária tenha sido ampliada, ainda é dificílimo usar o transporte coletivo. Carros privados são o meio mais utilizado. Eventualmente uma casa com 4 habitantes tem 5 veículos.

As paradas são distantes dos pontos de interesse, vários lugares são profundamente elitistas e hoje, no jornal televisivo local, foi apresentada uma matéria acompanhando pessoas que trabalham na região próxima à Ponte JK. Mais uma prova do quanto a cidade é hostil ao pedestre. É uma via expressa e as pessoas são forçadas a atravessar arriscando a própria vida.

Enfim, o DF não gosta de pedestres.

Confira matérias a respeito:

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