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Durante esse período de isolamento social, é forçoso termos estratégias contra o enlouquecimento. Eu sou um homem religioso, então, além de todas as atividades artísticas, estou agarrado a Kabila, meu Nkice, a Nsumbo, senhor das pragas e a Lembarenganga, Deus do branco e da paz. A eles, diariamente, ergo minhas preces.

Além deles, tenho ainda as artes. Continuo fazendo as atividades teatrais possíveis de serem feitas no isolamento, que têm se resumido a encontros virtuais (salve a tecnologia avançada) e a bate-papos. O Corujão da Poesia, organizado pelo João do Corujão – o mestre João Luis – toda terça-feira, viabilizado pelo meu amiguirmão Tomás Ribas, é também uma forma de resgate nesses tempos de distanciamento físico. Evoé.

Por fim, tenho feito algo com mais afinco do que em qualquer fase da minha vida: lido. Sempre fui ledor. Aprendi a ler com 4 anos e me lembro de, antes de entrar na escola propriamente dita, já estar às voltas com o livro “As Caçadas de Pedrinho”, de Monteiro Lobato. De lá pra cá, não houve um dia da minha vida que não lesse pelo menos um parágrafo de um romance.

Hoje concluí a leitura de uma autobiografia. Esse tipo de escrita está longe de ser o meu preferido, especialmente porque os vejo quase como um pedido de desculpas pela vida que os autores levaram. Muitos troféus à autocomiseração. Não gosto. Contudo, hoje terminei “Prólogo, Ato e Epílogo” da Fernanda Montenegro.

A trajetória dessa mulher das artes, mulher de teatro e de cinema e, porque não dizer, também de televisão, é sensacional. A relação dela, desde a vocação aos 8 anos até a atualidade, quando está prestes a completar 91 anos de vida, com o teatro e com o cinema é impressionante e ela nos dá uma lição para os tempos atuais:

“Nossos dias, há um outro tempo. Portanto, vivam os nossos monólogos nas catacumbas! E creio que será por muito, muito tempo. Vi e vivi muito do teatro brasileiro na sua quase pré-história, e ele me impregnou de um destemor cênico do qual, em essência, nunca me afasto. E penso que, por mais contestadora desafiadora, provocadora que seja uma encenação contemporânea, se não houver atores igualmente criadores dentro desse desafio, desse jogo, os que se soma é uma espécie de ‘instalação’. Artes plásticas.”

Eu não poderia concordar mais. E ainda me arrepiar com a profecia desse Oráculo. Ela traz em si quase um século de sabedoria.

Sigamos em frente. E como já dizia a canção protesto da década de 1960: “É preciso estar atento e forte. Não temos tempo de temer a morte!”

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