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Eu adoraria ser uma pessoa muito mais disciplinada, mas não sou. Eu que me acostume com isso! O fato é que a nova fase é do blog.

Fiz um acesso pago. Agora vou me sentir mais compelido a escrever diariamente. Ou pelo menos quase diariamente.

A questão mais séria é sobre o quê escrever. Hoje, por exemplo, estou muito emotivo. Estava ouvindo uma canção de Heikel Tavares e Juracy Camargo, gravada por Fafá de Belém, caí num choro sentido bem no meio da rua. Sorte que não encontrei nenhum conhecido.

A letra diz assim:

Leilão

De manhã cedo
Do lugar todo enfeitado
Nóis ficava amontoado
Pra esperar os comprador

Depois passava pela frente do palanque
Afincado ao pé do tanque, que chamava bebedô
E nesse dia minha véia foi comprada
Numa leva separada de um sinhô mocinho ainda

Minha véinha era frôr dos cativeiro
Foi inté mãe do terreiro famia dos kambindas
No mesmo dia que levaram minha preta
Me botaram nas griêtas, que pra mó de eu num fugir

E desde então o preto veio a percurô
Ficou véio como tô mais como é grande este brasil
E quando veio de Isabé as alforria
Percurei mais quinze dias mais a vista mi fartô

Só peço agora que me leve sinha isabel
Quero ver se tá no céu minha véia meu amor
Só peço agora que me leve sinha isabel
Quero ver se tá no céu minha véia meu amor

Olha pra essa letra. A voz chorosa de Fafá, o clima, um arranjo fabuloso (não sei de quem é, mas tem uma viola de sete cordas plangendo que dói o coração). O fato é que chorei. Muito. Aliás, é a segunda crise de choro em menos de dez dias.

Segunda-feira da semana passada, durante o ensaio geral da peça Dezembro, escrita por Tiago Herz para conclusão da Oficina de Teatro da prof. Susanna Kruger, uma cena me fez cair num pranto convulsivo também. A cena é simples: os gnomos do papai noel pegam as cartas enviadas pelas crianças. A trilha sonora é White Christmass, na voz de Bing Crosbi. A luz é azul e eu estava no urdimento, aguardando para baixar um cenário.

Aviões de papel são cartas das crianças para Papai Noel, na farsa natalina Dezembro

O pior é que nem podia fazer barulho. Eu fiquei tão consternado e comovido com a cena, e não consegui até hoje identificar a razão pela qual chorei tanto.

Hoje foi a mesma coisa. Chorei sem razão. Claro que a canção é triste, mas eu já conhecia, já havia ouvido várias vezes. Mesmo assim, chorei. Talvez porque tenha feito a cena na minha imaginação. A venda de pessoas, que persiste até hoje, como humanos escravizados, o amor impedido e separado propositadamente, o homem que busca por toda a vida o amor interrompido, até pedir para morrer e ver se encontra a amada no céu! Muito melodramático, eu sei. Mas fazer o quê? Eu sou uma pessoa que leu Meu Pé de Laranja Lima várias vezes e chorou todas as vezes. Aí está a razão de eu ser tão melodramático.

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