O grande crítico Harold Bloom escreveu um livro, ou melhor, um compêndio, chamado Shakespeare e a Invenção do Humano. Embora pareça um exagero, mas lendo o inglês atentamente, chegamos à mesma conclusão.
As personagens shakespeareanas são densas, multidimensionais, atendem a desejos, ímpetos de se tornarem reis, como MacBeth; têm dúvidas atrozes e anseios de vingança, como Hamlet; sofrem de amor e morrem por ele, como Julieta. Um dos mais instigantes é Ricardo III. Amou, tramou, foi brutal assassino do irmão, dos rivais, da esposa, dos sobrinhos, tornou-se rei da Inglaterra, finalmente, mas morreu numa das batalhas da guerra das rosas.
Essa história está novamente sendo contada, de quinta a domingo, no Teatro Poeirinha em Botafogo, onde estreou há 6 anos. Gustavo Gasparani interpreta com maestria todos os personagens da trama. É sensível como Lady Anne, engraçado como a criada, majestático como a Rainha Elizabeth e, por fim, implacável como Ricardo III.
O espetáculo é uma aula de interpretação e um show de virtuosismo da arte do ator. Sozinho, com poucos recursos cênicos, conta a história do rei deformado e a trajetória de dor e glória desse que é um dos mais ricos personagens do bardo inglês.
Se eu fosse um crítico de teatro, seria um dos espetáculos mais recomendados desta temporada!