Hoje seria aniversário de Elizeth Cardoso, A Divina. Ela faria 101 anos. Eu me lembro da primeira vez que me dei conta da maravilha de voz dessa mulher. Eu caminhava pelo Parque da Cidade, em Brasília, numa manhã de sol. De repente, pela Rádio Nacional que tocava no meu Walkman, começam os acordes inigualáveis do violão de Raphael Rabello e a voz desconcertante de Elizeth, cantando o pot pourri Janelas Abertas/Canção da Manhã Feliz/Bom dia. Ao final desses quase 5 minutos de inebriamento (a palavra existe), eu estava sentado no gramado, chorando como criança.
Fiquei louco pelo álbum, mas naquele tempo, ainda não tínhamos internet, tudo era mais difícil. Só fui conseguir adquiri-lo muitos anos mais tarde, num brechó da Benedito Calixto em São Paulo. O álbum é inteiro maravilhoso e eu virei fã incondicional.
Fizeram outro sentido os versos da canção do Tom Jobim: “rua Nascimento e Silva, 107 / você ensinando pra Elizeth / as canções de Canção do Amor Demais”.
A vida dela, recheada de amor, paixão, desencantos, sucesso tremendo e um imenso respeito pelos fãs, foi tema de um musical estrelado brilhantemente por Isabela Bicalho. Eu o vi no Teatro João Caetano. Ai, que saudade de ir ao Teatro. Lembro-me também da biografia de Ary Barroso, encenada no Maison de France (desta peça, só me lembro das cenas, e não consegui localizar a ficha técnica), mas o importante é a cena em que Elizeth vai se apresentar como caloura e começa a cantar No Rancho Fundo, cuja letra havia sido alterada. Ary disse: A senhora está cantando errado, ao que o assistente de palco relembra a ele que o original era Na Grota Funda.
Com 28 álbuns solo e mais diversas participações em coletâneas, a carreira iniciada em 1955 sempre foi brilhante. Interpretou sambas, canções, MPB, bossa nova, sempre com elegância e um timbre até hoje inigualável, mas que várias cantoras mais modernas tentam imitar. Maria Bethânia já disse que a teve como inspiração.
Feliz aniversário, Divina Elizeth Cardoso.