TEATRO

Hannah Arendt – Uma Aula Magna

Uma das filósofas mais importantes do século XX revisitada em uma peça contemporânea que faz um elo entre o que ela ensinava e os nossos dias.

Quinta-feira passada fui ao ótimo teatro do Centro Cultural do Banco do Brasil para ver Eduardo Wotzik encenando um monólogo marcante. Texto enxuto, palavras claras, iluminação impecável. Em cena, o veterano ator encarna Hannah Arendt, autora, dentre outros, de “A Banalidade do Mal”. Neste relato, ela trata do julgamento do criminoso nazista Eichmann.

O que mais impressionava Hannah era como ele era um homem comum, um qualquer. Mas ele organizava as filas nos trens que levavam os judeus para os campos de extermínio. Na cabeça dele, estava apenas cumprindo uma tarefa, pois era um funcionário público. Wotzig faz um elo entre esse texto e a contemporaneidade, as opressões a que estamos submetidos diariamente.

Didático sem ser panfletário

A personagem age como uma professora numa sala de aula para doutorandos, valorizando a plateia. Algumas risadinhas de nervoso são ouvidas ao longo do texto, por conta do absoluto domínio que o ator tem sobre nós.

O texto é muito bom, mas não posso deixar de fazer uma crítica. Hitler foi de uma crueldade insana, mas está longe de ser o pior genocida da humanidade, pois agora vivemos um período de decolonialidade. Nessa toada, temos de nos lembrar dos colonizadores do continente africano, desde o Séc. XVI. Os europeus inventaram que os demais povos não eram humanos e portanto poderiam ter sua liberdade aviltada.

Leopoldo II da Bélgica havia agido com tanta ou mais crueldade, atingindo e matando muito mais congoleses que a população judia dizimada entre 39 e 45. Não menosprezo o sofrimento dos judeus, nem acho o holocausto desprezível, mas está longe de ser o único praticado pelos povos europeus. Os outros, como foram contra africanos e nativos das américas, que para eles não eram nem humanos, não contavam. Todavia, hoje, como Wotzik faz essa contemporanização, falando de celulares e internet, não dá pra ficar no passado.

Tirando esse pequeno detalhe, é uma peça incrível e tem de ser vista por todos!

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