TEATRO

A Menina Escorrendo dos Olhos da Mãe

Dia 13 de maio foi o dia de assistir à belíssima peça A Menina Escorrendo dos Olhos da Mãe, texto de Daniela Pereira de Carvalho e interpretação de Guida Vianna e Sílvia Buarque.

A cena trata principalmente da trajetória de Antônia, na busca de conexão com a mãe, em primeiro lugar e com a filha, em segundo. Traz à reflexão os complexos e intrincados meandros da relação conturbada de uma mãe LGBTfóbica. Poderia, se estivesse no masculino, representar a minha história com meu pai.

Antônia, aos 18 anos, se revela lésbica à mãe, que não compreende nem aceita a homossexualidade da filha. Por conta disso, ela presta vestibular e vai fazer um curso de literatura comparada em outro Estado, se exilando da família. Na busca pela autocompreensão, ela mergulha num redemoinho de sexo sem sentido, álcool e drogas. Por conta desse comportamento, engravida e abandona a filha.

Questionamentos sobre a sexualidade e abandono

A peça traz na primeira cena Eliza, brilhantemente interpretada por Guida Vianna, tentando se reconectar com a filha Antônia, papel de Sílvia Buarque. O símbolo trazido à cena é a muralha de gelo que as separa. A mãe está com 70 anos e a filha com 50. Elas passaram os últimos 30 anos entre aproximações e afastamentos, mas sempre tiveram a homossexualidade como ponto de tensão entre as duas.

Na segunda cena, o reencontro entre Antônia e a filha Helena. 20 anos se passaram desde a primeira cena e agora, Antônia é interpretada por Guida e Helena por Sílvia. O ponto central aqui é ainda mais psicanalítico. O tema é o abandono e a sensação de Helena, que só descobriu ser adotada quando engravidou pela primeira vez. Helena, então, descobriu que era filha de Antônia, uma intelectual, mas demorou anos para ter coragem de buscar a mãe.

Interpretações magistrais

Tanto Silvia quanto Guida são absolutamente impecáveis nos papeis. São auxiliadas pela cenário exato de Ronald Teixeira e pela luz magistral de Paulo Cesar Medeiros. Esta luz, aliás, sublinha os momentos mais importantes de reflexão das personagens e nos conduz aos meandros e sutilezas do texto.

Enfim, é um espetáculo que leva à reflexão sobre as delicadas relações entre mães e filhas, apoiadas, principalmente, na questão da dificuldade de construir afetos materno-filiais, quando a questão da sexualidade permeia os preconceitos de uma geração.

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