Hoje eu ia escrever um pouco sobre mim mesmo. Tive uma reflexão ontem enquanto fazia xixi num boteco de Copacabana. Estava com amigos no Bar do David, filial Barata Ribeiro, e entrei no banheiro e garrei a pensar: A maior vantagem de ser homem é o urinol do banheiro masculino. Em casa, eu faço xixi sentado, porque moro sozinho e a faxineira só vai uma vez por semana. É a maneira mais segura de não ter resquício de urina vazando por todos os lados e evita 1) ter de lavar banheiro todos os dias e 2) cheiro de banheiro de rodoviária ao fim de 3 dias sem lavar. Prático, cômodo, sem perigo de errar. Em banheiro público, não me sento. A vantagem do urinol é essa: a gente chega, mira, urina e vai embora sem tocar em nada.
Pensava nisso e em como eu nunca quis ser mulher. Foi um assunto que rolou outro dia em casa, com um amigo, quanto tocou no aleatório “o lado quente do ser”, uma canção de Marina e Antônio Cícero, gravada pela Bethânia. É a famosa “eu gosto de ser mulher, sonhar arder de amor, desde que sou uma menina”. Era meio um hino entre os meninos gays da minha geração. Meu amigo dizia que a irmã dele cantava isso e olhava para ele em tom de deboche. Eu também cantava isso meio em tom de deboche, mas jamais me senti mulher.
Mas isso nada tem a ver com o que me chamou a atenção hoje. Estava eu passeando pelo site d’O Globo quando deparei com o seguinte parágrafo:
“O pagamento da propina pelo Ministério Público Federal (MPF) por meio de uma operação controlada, autorizada pela Justiça, que ocorre, entre outras formas, quando os investigadores acompanham e monitoram a entrega do dinheiro para obter provas. Segundo as investigações, os servidores da Receita exigiram propina para arquivar as ações fiscais abertas contra Ricardo, cuja suposta multa apurada era de milhões. Esta investida dos fiscais ocorreu depois da “Operação Rizoma”, que levou o empresário à prisão em 12 de abril do ano passado. “
Jesus do Céu!!! Como é que alguém tem coragem de publicar uma coisa dessas. Tudo bem que estou MUITO LONGE de ser o Machado de Assis, mas pelo menos minhas orações fazem sentido. Têm lógica interna, são compostas de sujeito, verbo e predicado, na maioria das vezes. E os parágrafos são até concisos. Tenho recebido elogios dos amigos que visitam o blog. Agora vamos lá: Na primeira oração, os autores Juliana Castro e Chico Otávio começam com o sujeito ‘o pagamento da propina pelo Ministério Público Federal por meio de uma operação controlada’; intercalam o aposto ‘autorizada pela Justiça’; inserem uma oração subordinada explicativa ‘que ocorre entre outras formas, quando os investigadores acompanham e monitoram a entrega do dinheiro para obter provas’ e encerram o período. Acho tão frustrante quando não sei o que o sujeito quer fazer…
Depois, vou para uma notícia tão abjetamente surpreendente que quase me causou náuseas: o presidente dos EUA cogitou atirar nas pernas de imigrantes, cavar um fosso com jacarés e cobras e colocar eletricidade e estacas perfurantes nos muros. Também tentou ordenar um fechamento imediato da fronteira contra o México, sem avaliar as consequências de tal atitude. Não dá pra dizer que ele é a reencarnação de algum nazista, porque ele nasceu em 1946, logo após o fim da segunda guerra europeia. Também não dá pra pensar que ele desconhece os efeitos de sitiar uma cidade, como foi feito em agosto de 1961 pela então Alemanha Oriental. Os relatos da dor das famílias separadas e dos assassinatos cometidos pelos soldados guardiões da fronteira são amplamente divulgados.
Enfim, o mundo está ficando um lugar cada dia mais estranho e perigoso de se viver…