Quantas vezes por dia somos confrontados com violências extremas e nos acovardamos ou simplesmente ignoramos?
Essa é a principal questão do monólogo O Motociclista no Globo da Morte, em cartaz no Teatro Poeira e encenado por Eduardo Moscovis. A peça é essencial para refletirmos sobre a contemporaneidade, porque nos leva a confrontarmos tanto a nossa própria covardia, quanto a indiferença dos poderes constituídos, principalmente com relação às populações mais vulneráveis.
O texto narra uma história pontual, ocorrida com um personagem avesso às violências diárias. Ele está sentado no boteco habitual, num horário de pouco movimento, quando outro frequentador comete uma atrocidade contra um cachorro comunitário. Nesse momento, Antônio (o personagem de Moscovis) tem uma espécie de surto e vai defender o cãozinho.
Antes, ele conta toda a história, como chegou até aquele momento, e todas as agruras passadas ao longo de sua vida: o pai, a mãe, o primeiro contato com uma cena violência, como ele reagiu ainda em tenra idade.
Cenário minimalista
O cenário é apenas uma cadeira, um praticável mínimo que suporta um copo d’água a ser consumido ao longo do espetáculo. A iluminação é branca, e o efeito é o da realidade tão dura quanto um tijolo. O texto realista pelo menos oferece informações bem profundas. Especialmente no que diz respeito ao trato com os animais.
Sou daquelas pessoas que até podem suportar uma violência contra outro ser humano. Não obstante, quando é uma situação envolvendo animais de estimação, cães especialmente, sou capaz mesmo de perder o réu primário. Por isso me identifiquei profundamente com Antônio. A peça está em cartaz no Teatro Poeira e eu recomendo fortemente.
O título é uma metáfora perfeita para a situação contemporânea. Somos habitantes de um imenso Globo da Morte. Guerras, perversidades mesquinhas, mentalidades tacanhas e, principalmente a partir dos eventos Ronald Reagan e Margareth Thatcher, voltado ao individualismo extremado. Esses dois pervertidos tiraram do mundo a mentalidade de que o coletivo é muito mais importante que o individual e que o ser humano devia ser muito mais cooperativo que competitivo.
Por conta deles, a humanidade está cada dia mais violenta e obsessiva com pequenas vitórias individuais, ao invés de construir um progresso coletivo.
Ficha Técnica O Motociclista no Globo da Morte
Texto: Leonardo Netto
Elenco: Eduardo Moscovis
Direção: Rodrigo Portella
Assistência de Direção: Milla Fernandez
Trilha Musical: André Muato
Iluminação: Ana Luzia de Simoni
Figurino: Gabriella Marra
Estudos Visuais em IA: Zezinho Mancini
Produção Executiva: João Eizô
Direção de Produção: Sérgio Saboya e Silvio Batistela
Produção Geral: Eduardo Moscovis e Sérgio Saboya
Informações O Motociclista no Globo da Morte
Local: Teatro Poeira – Botafogo (RJ)
Data: Até 14 de Dezembro • Quinta, Sexta e Sábado – 20:00 h • Domingo – 19:00 h
Duração: 60 minutos
Classificação: 14 anos
Ingresso: Compre Aqui
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