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RELIGIÃO

Laroyê Exu – Mojubá Exu! Eu saúdo e peço permissão para falar sobre um assunto sagrado e muito caro à minha trajetória como pessoa.

Tempos atrás, a grande e saudosa Yalorixá mãe Stella de Oxóssi, líder do tradicionalíssimo Axé do Opô Afonjá, fez um texto chamado Yansã não é Santa Bárbara. É que para os povos que seguem religião de matriz africana no Brasil, dia 4 de dezembro, dedicado a Santa Bárbara, também é dia de Yansã, assim como no 8 de dezembro se celebra Oxum, dia 2 de fevereiro, Yemanjá, 17 de dezembro é Obaluayê, 23 de abril Ogum no Rio de Janeiro e Oxóssi na Bahia. Enfim, os Deuses africanos, sincretizados, são celebrados nas datas dos santos católicos.

Quando mãe Stella lançou esse manifesto, ela queria romper essa tradição centenária de subordinação à igreja e aos santos dos brancos, atitude compreensível, uma vez que temos constitucionalmente garantido o direito de culto e a liberdade religiosa e não há mais necessidade de guardarmos os objetos de culto embaixo de altares dedicados às divindades cristãs.

Se por um lado ela tem toda razão, porque não há motivo algum para permanecer reforçando essa assimilação. Os Orixás são deuses, são seres divinizados, quer tenham existido ou não. Os povos africanos cultuam antepassados, seja como deuses, seja na qualidade de egunguns, mas a associação ocorreu somente por necessidade de preservar uma sabedoria, uma cultura. As assimilações ocorriam de forma aleatória, por causa da cor, ou porque este ou aquele santo cristão é padroeiro desta ou daquela área da vida. O exemplo do título dado por mãe Stella é típico.

Bárbara era uma moça turca que renunciou à fé dos romanos do oriente, convertendo-se ao cristianismo. Por conta disso foi condenada ao suplício e a ser decapitada, sentença a ser executada pelo próprio pai, Dióscoro. Ao ser decapitada, um raio atingiu seu carrasco e, razão pela qual ela é considerada a protetora contra tempestades. Isso ocorreu por volta do terceiro século da era cristã, na Nicomédia, região da Turquia próxima ao Mar de Mármara. Bárbara morreu virgem e recusou todos os pretendentes.

Oyá Yansã era uma mulher guerreira. Segundo as lendas, foi mulher de Ogun, o Orixá ferreiro, depois de Xangô, rei de Oyó. É a deusa dos ventos e das tempestades, imperando junto com o marido, Xangô, que é o deus dos raios e trovões. Suas filhas são mulheres poderosas, empoderadas, espalhafatosas, amorosas, sempre belas e onde entram, jamais passam desapercebidas. É como se sempre houvesse uma ventania em torno delas.

Outra Orixá cujo sincretismo é famoso, é o de Nossa Senhora da Conceição com Oxum. Esta, então, é das mais díspares. Conceição é uma corruptela de imaculada concepção, que diz respeito à milagrosa inseminação de Maria pelo Espírito Santo. Para a tradição cristã, a Maria era uma virgem devota e Javé a escolheu para tornar carne o verbo. Para essa linha de crença, sexo é um pecado e deve ser evitado a qualquer custo, não pode ser feito por prazer, apenas para a reprodução, enfim, toda essa linha de pensamento, para mim, totalmente absurda, aliás, na minha opinião, a abstinência sexual é uma das piores perversões. Oxum foi casada com Ogun, depois com Xangô e teve um filho com Oxóssi, o Orixá Logunedé. Não dá para comparar a deusa da fertilidade, da sedução, da beleza, do amor, com a esterilidade cristã/católica de Maria.

Pelo outro lado, foi só por causa do sincretismo que os povos escravizados puderam manter viva a chama da fé nas forças da natureza. É por causa dessa forma de resistência e de resiliência que hoje conhecemos e podemos cultuar os Orixás, Jinkice e Voduns. Esse foi o ensinamento da Makota da minha casa, ela confirmada meses antes da minha feitura e a pessoa responsável pela minha vida no sacerdócio. Esse ensinamento me fez pensar duas vezes antes de simplesmente ignorar o sincretismo e respeitar a tradição de pedir a bênção aos mais velhos nos dias consagradas aos Orixás.  

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