Fui eu que se fechou no muro e se guardou lá fora
Fui eu que num esforço se guardou na indiferença
Fui eu que numa tarde se fez tarde de tristezas
Fui eu que consegui ficar e ir embora
E fui esquecida, fui eu
Fui eu que em noite fria se sentia bem
E na solidão sem ter ninguém, fui eu
Fui eu que na primavera só não viu as flores
E o sol
Nas manhãs de setembro
Eu quero sair
Eu quero falar
Eu quero ensinar o vizinho a cantar
Eu quero sair
Eu quero falar
Eu quero ensinar o vizinho a cantar
Nas manhãs de setembro
Nas manhãs de setembro
Nas manhãs de setembro
Nas manhãs…
Nas manhãs de setembro
Nas manhãs…
Essa linda canção de Vanusa serve como uma espécie de leitmotiv da série soco na boca do estômago da Prime vídeo. São cinco capítulos, cinco episódios em que acompanhamos a dura vida de Cassandra, moto girl, interpretada por Liniker. Ela tem um caso com um garçom, vivia numa casa com outras pessoas transgênero e consegue, finalmente, alugar um espaço só seu para viver. Ela quer viver a experiência de dormir num lugar só dela e manda o namorado de volta para casa.
Neste mesmo dia, Lady aparece com Gersinho, filho de uma transa única e que está morando nas ruas de São Paulo. A trama se desenvolve a partir daí e é daqueles seriados que nos mostram a vida exatamente como ela é. Não há cenários glamurosos, não há maquilagens roliudianas, nem figurinos chiquérrimos. É tudo exatamente como se passa na vida real.
Gustavo Coelho, o garoto que vive Gersinho merece grande destaque. Suas cenas com Gero Camilo, outro grande ator, são ternas, belas e emocionantes. E olha que usualmente eu não gosto de crianças em produções nacionais. Gustavo é uma das exceções. Outro enorme destaque tem de ser feito para a interpretação de Elisa Lucinda, que faz a voz com quem Cassandra sempre conversa.
Embora a atuação não seja o forte da série, o drama dessas pessoas, narrado de forma crua e sem retoques, nos traz para um universo desconhecido da maioria de nós. Nem imaginamos o que é estar na pele, sentir os preconceitos, a dificuldade que temos com a questão de gênero, como tratar essas pessoas.
Essa discussão tem de estar cada vez mais presente em nosso cotidiano, porque nós, população LGBTQIA+, não vamos voltar para as sombras. Como dizia a palavra de ordem usada nas primeiras paradas LGBT: We’re queer, w’re here. Get used to it!
VALESKA FATURETO LOPES
Que legal! Vou assistir.