A Vela, peca de teatro com Herson Capri e Leandro Luna, em curtíssima temporada no DF, é Delicada e instigante, mas é necessária.
A Vela: discutir a sentença de exílio até que ela se estinga
De acordo com a sinopse, a peça conta a história do professor Gracindo, vivido pelo talentosíssimo e experiente Herson Capri que, ao se ver viúvo, decide se mudar para um asilo. O personagem de Leandro Luna, seu filho, foi expulso de casa muitos anos antes em razão da homossexualidade e passou muitos anos sem manter contato com a família.
No começo, eu estranhei um pouco a adoção de solilóquios para a apresentação da personagem de Capri. Fica parecendo um sublinhar de cena, mas ao longo da peça vemos as razões desta escolha e a questão se dilui.
A psicanálise nos ajuda a compreender por que nos exilamos da família
O exílio de nós, homossexuais foi o tema que mais me chamou a atenção. Lidei com isso na psicanálise, mas vejo que é uma sentença sofrida por muitos de nós, ao abrir o coração à família. Pode ser uma decisão tomada sem muitos traumas, como a minha, que passei num concurso público em Brasília e para cá me mudei. No entanto, pode ser um evento profundamente traumático, como acontece freqüentemente em lares de orientação pentecostal.
A personagem do filho, Cadu/Emma Bovary aparece para ajudar o pai a empacotar os livros que o seguirão na mudança para o exílio. Após 20 anos sem um encontro entre os dois, o drama entra no diálogo de forma nem sempre sutil. Os elementos diegéticos estão muito bem utilizados, marcando o caminho da ação dramática e apontando para o inevitável fim desse tipo de embate.
Não sei se a peça continuará em cartaz, ou para onde segue, depois daqui, mas é um texto contundente, que nos faz rir em alguns poucos momentos. Todavia, na maior parte do tempo nos convoca à reflexão sobre que tipo de relacionamento que aqueles que não se adequam ao modelo heteronormativo são submetidos nas famílias, em especial nas de tradição pentecostal .