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TEATRO

Grande Sertão, Veredas – Uma Kizomba Periférica

Está em cartaz no Gama/DF o espetáculo Grande Sertão, Veredas – Uma Kizomba Periférica, que adapta a monumental obra de G. Rosa para o teatro de forma ousada.

Grande Sertão
Grande Sertão

Adaptação de Grande Sertão, Veredas, um Fausto Sertanejo

A montagem é o resultado de pesquisa de doutoramento em Artes Cênicas de Valdeci Moreira, que junto com o professor e Babalorixá Ricardo César, assina a direção desse experimento teatral importante e visceral.

Ler Grande Sertão, Veredas, do gigante Guimarães Rosa, já é uma proeza para muitos, por causa da linguagem. Pois o livro transcreve o falar do sertão mineiro, baiano e goiano, Guimarães, em 1956, surpreende as rodas literárias. Além disso, o romance narra as aventuras de desventuras de Riobaldo, também cognominado Tatarana e Urutau Branco, nas guerras de Zé Bebelo contra o cangaço.

Grande Sertão
Grande Sertão

Por conta da labiríntica narrativa, atravessada por misticismos e crendices, o próprio Guimarães considerava uma releitura do mito fáustico. E talvez, ao longo dos tempos, esse tenha sido um dos principais eixos de leitura e interpretação do romance. Mas para mim, o outro eixo, o do amor platônico de Riobaldo por Reinaldo – Diadorim, rompe mais barreiras, especialmente considerando a mentalidade do momento em que foi publicado.

Kizomba Periférica para Riobaldo e Diadorim

A adaptação de Valdeci traz para o centro da cena e realça personagens periféricos do romance, sem descuidar da trajetória de Riobaldo e Reinaldo. Além disso, acrescenta elementos macumbísticos, de terreiros de Umbanda, Jurema e Candomblé. Afinal, o sertão foi, e talvez ainda seja, região de muitos aquilombamentos.

Por ter sido elaborado na forma de teatro de arena, ainda remete às origens da celebração mística das rodas de terreiro. As músicas, as danças, o jeito de falar e a polifonia constantes na montagem evocam os ruídos campestres e rurais. Afinal, no meio do mato, o silêncio não existe, todavia, o barulho é diferente e cheio de significados. Marulho de riacho, piar de pássaros, sibilar de cascavéis, farfalhar de folhas pelo vento, tudo é significante é significativo para o sertanejo.

O elenco, formado por Graça Veloso, Leo Thilé, Jura Camilo, Sara Tavares, Cleire Zaran, João Paulo, Juan Ricthelly, Thiago Magalhães, Martin Filho, Maria da Conceição, Francisco Donga, é muito equilibrado e competente. Ressalta-se, ainda, a trilha sonora, toda realizada ao vivo pelos músicos Matheus Trindade, Hugnaton Souza e João Vitor, tocadas em tambores, atabaques, surdos, apitos e cordas. Tudo muito harmônico e muito bem conduzido.

Tudo se completa

A cenografia e os figurinos mesclam tanto o sertão propriamente dito quanto a linguagem dos terreiros de Umbanda. Conseqüentemente, isso nos lembra sempre de que estamos diante de uma celebração cênica, contudo, cantigas de terreiro e “transes” nos lembram de que há também aí um conteúdo místico.

O esforço dos envolvidos no projeto deve ser ressaltado, porque é notória a dificuldade de se fazer arte de verdade num País como o Brasil, dominado por uma cultura de entretenimento fácil. Por isso, não deixem de assistir a “Grande Sertão, Veredas – Uma Kizomba Periférica”, em cartaz no Teatro Semente, no Setor Central do Gama, em frente à Feira do Galpão Central da cidade, sempre às 20h, de quinta a domingo.

Instagram: https://www.instagram.com/sementeciadeteatro/

Site do espetáculo:  www.sementeciadeteatro.com.br/grandesertaoveredas

Uma resposta

  1. Sou um fã e amigo da Cia Semente de Teatro e esse espetáculo é a coroação dessa companhia maravilhosa. Já assisti duas vezes e vou mais para me emocionar de novo.

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