Bernard Cornwell reescreveu a lenda de Artur e a távola redonda desmistificando a aura de herói do grande rei inglês. Vale a pena ler essa recontagem criativa.
Uma visão diferente da lenda de Artur
A lenda do Rei Artur, tido por unificador da Bretanha, tem diversas versões. Já falei sobre isto recentemente, porque tinha terminado de reler o primeiro volume da saga, conforme reescrita por Bernard Cornwell. Pesquisando a biografia de Bernard, compreendemos um pouco mais porque a questão religiosa está tão intensamente discutida na trilogia.
Para Cornwell, Artur jamais teria sido o rei da Bretanha, mas um dos senhores da guerra, dos séculos iniciais do período cristão. Há uma sincronia, pois a criação e educação do autor ficou a cargo de um casal de uma seita extremista cristã, denominada Pessoas Peculiares. A relação conturbada entre os pais adotivos e o autor perpassa, em algum grau, a recontagem da lenda de Artur.
Não li o poema original, Mort D’Artur, do Marlowe, mas li As Brumas de Avalon e vi o Excalibur várias vezes. Nessas versões, Lancelot (ou Galahad), é um grande herói, amicíssimo de Artur e, por isso, com dores ao se apaixonar pela Guinevere. Na versão de Cornwell, a história é um bocado diferente.
Conduzindo a história, temos um monge cristão convertido, contando feitos arturianos 2 gerações depois dos fatos, para uma das descendentes do Rei de Powys. Trata-se do monge Derfel, antes criado no mosteiro druida de Merlin, portanto da religião, e comprometido com Nimue, uma das heroínas femininas da saga.
Derfel, um dos melhores amigos do regente, é vencedor da morte como Nimue (isso é informado bem no início da contação da saga, não é revelação de nenhum segredo). Um druida o atirou a um poço sacrificial antes dos 4 anos de idade ele, contra todas as expectativas, conseguiu sair de lá com vida. Isso fez dele um ser especialíssimo, na visão do Merlin.
Original na hora de contar as crônicas
Testemunha de todos os fatos históricos relevantes, em virtude dessa proximidade com Artur, ele vai contando como viu e como viveu, para a rainha bisneta de seu cunhado. Eles estão enganando o líder do mosteiro cristão, o Bispo Samsun, fanático, sub-reptício, mau caráter, enganador e sedento de poder. Lembra um certo pastor da igreja Adventista brasileira.
A rainha, tomada pelo cancioneiro dos bardos, tem uma visão distorcida, que Derfel vai desmontando ao longo da contagem.
Muito bom de ler, recomendo demais.
Disponível na Amazon em formato físico ou Kindle