A morte é a única certeza que temos. Ao longo da vida, tudo pode acontecer, inclusive nada, mas o fim dela é inevitável e temos de nos acostumar com este fato.
E por que a finitude nos assusta tanto? Eu tenho uma experiência de vida que me diz o quanto eu não temo o fato de uma hora vir a morrer. No ano da morte de minha mãe eu ainda morava no Rio de Janeiro. Minha irmã passou 3 meses lá comigo e, quando fui levá-la de volta para Goiânia, fomos de carro para eu voltar de avião.
Pois bem: na chegada, na hora da aterrissagem no aeroporto Santos Dumont, localizado na Baía de Guanabara, houve um vento atravessado e a nave chacoalhou bastante. Na hora, o meu pensamento foi: pelo menos vou morrer vendo uma paisagem maravilhosa.
quando a morte nos ronda
Essas coisas passaram pela minha cabeça porque a morte estava rondando uma das pessoas mais queridas dos meus relacionamentos. Ela enfrentou o terceiro câncer e perdeu a batalha. Tenho muito medo desse tipo de morte, porque o sofrimento arrastado me atemoriza mais que o fato morrer em si.
Infelizmente, ela se foi no dia em que cheguei ao Rio de Janeiro para trabalhar presencialmente. Não pude pagar meus respeitos, pois estava impedido de ir ao cemitério. Nem pude chorar a minha amiga.
Ela era zeladora de santo e uma grande amiga do axé. Agora, o pai de santo dela não quer fazer os ritos fúnebres, pois não sabe, nem tem ideia do que precisa ser feito. É uma pena.
No Candomblé, somos iniciados, passamos por vários processos de aprendizado, arriamos obrigações, viramos velhos de santo. É um processo que tem começo e meio e, logicamente, deve ter um fim. O fim, é o ritual chamado Axexê. Todos os iniciados têm direito a ele.
Dizem que os iniciados nos mistérios não morrem, viram encantados. Por isso os ritos de reconhecimento dos encantados são importantes para nós, de santo.