|

Pesquisar
Close this search box.

LITERATURA

O Encontro Marcado e o meu reencontro com Fernando Sabino

O Encontro Marcado é um livro sobre a trajetória de um anti-herói, que segue na marcha irrevogável para o fim da vida aos tropeços.

O romance, na minha opinião o melhor de Fernando Sabino, é de 1956 e o exemplar que reli é o da qüinquagésima quinta edição. Nele, acompanhamos a vida de Eduardo Marciano, um jovem angustiado pelas dúvidas existenciais, cujas escolhas refletem em grande parte o que nós sentíamos num tempo menos conectado.

E epígrafe da capa é uma espécie de resumo da história a ser acompanhada: “Ele faria da queda um passo de dança, do medo uma escada, do sono uma ponte, da procura um encontro”. Eduardo, Mário e Hugo formam o trio que protagoniza a maior parte da história. São ginasianos de uma Belo Horizonte jovem e bucólica, porém já com angústias relativas às próprias vidas, dignas de gente mais velha dos tempos atuais.

Esses adolescentes abordam questões políticas, angústias e dúvidas sexuais. Aliás, são assolados por dúvidas sexuais e um dadaísmo inerente ao viver interiorano de gente que estuda demais, lê demais e que não se compreende nos limites estreitos da sociedade opressora que os cerca.

Os três rapazes tomam porres homéricos e aprontam confusões hilariantes. Envolvem o delegado, o chefe da redação do jornal matutino nas bagunças que fazem durante a carraspana.

Um dia, Eduardo conhece Antonieta, filha de um ministro de Estado que visitava a tia em Belo Horizonte. Se apaixonam. Começa a primeira virada da vida desse boêmio contumaz e dublê de escritor, pois pela primeira vez experimenta algo parecido com o amor. Ainda terá outras vivências neste campo, mas acabará se casando com Antonieta e se mudando para a capital (à época, o Rio de Janeiro).

A partir desse momento, Eduardo se vê num turbilhão ao qual não está acostumado e não consegue responder. Casos extraconjugais, mais bebedeiras, mais confusões e o romance da geração que não passa da gestação.

Muitas dúvidas, mais angústias, morte do pai, solidão da mãe estão entre os pesadelos do nosso personagem. Ele é uma síntese do homem daquela época. Mas o que mais me marcou foi que a trajetória dele é a do fracasso, contrariando o usual dos personagens de romance, especialmente daquele tempo. O mais comum eram as histórias de lutas contra as adversidades, mas com vitórias retumbantes no final.

É também muito interessante nos reportarmos a um tempo em que não havia ainda a televisão, o telefone era de baquelite, a diversão popular mais comum era o cinema e o footing era a paquera do tempo.

Fernando Sabino é o meu ídolo da literatura brasileira. Na minha adolescência, meu sonho era escrever como ele.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *