Este livro de Stephen King, adaptado para o cinema por Tony Gilroy e dirigido por Taylor Hackford, é um manifesto pela liberdade feminina de se defender da violência doméstica.
O livro é narrado em primeira pessoa, numa linguagem coloquial e instigante. Ouvimos a voz dessa mulher simples, batalhadora, em seu enorme depoimento, quando é acusada de ter assassinado a patroa, Vera Donovan, eis que foi surpreendida pelo agente de correios com um rolo de massa na mão e a finada aos pés da escadaria da mansão.
Durante o depoimento, o detetive John Mackey tenta imputar novamente a Dolores o assassinato do marido, muitos anos antes, durante um eclipse. Todavia, esse crime jamais foi provado pois ficou parecendo um acidente.
Dolores é resiliente
Agora o alerta de revelações: se quiser ler o livro, e eu recomendo, deixe a leitura aqui e retome daqui a X parágrafos. Durante o depoimento, ficamos sabendo de todo o plano de Dolores, no eclipse total ocorrido 30 anos antes. Dolores vivia um relacionamento abusivo com Joe St. George, um bêbado imprestável. Para sobreviver e manter os 3 filhos, emprega-se na casa de Vera Donovan, esposa de um magnata do continente, mulher mimada e exigente. Vera submete os empregados a tratamentos humilhantes, porque quer sempre tudo impecável para receber os convidados durante a temporada de verão.
Como nenhuma das moças da pacata cidade de Little Tall, no Maine, consegue se fixar no emprego, nossa heroína suporta com galhardia os maus tratos e conquista a confiança de Vera. À época, Serena, uma das filhas, está atingindo a adolescência e seu comportamento se altera subitamente. Dolores desconfia do marido e suas suspeitas são confirmadas. É nesse momento que ela elabora o plano. Porque um eclipse está para acontecer, e ela sabe que a cidade insular estará toda voltada para o evento. Nesse sentido, ela cobre um antigo poço desativado com madeira podre e espera pacientemente.
A execução do plano perfeito
Quando Joe chega no estado de ânimo de sempre, enfezado e puxando briga, Dolores oferece uma garrafa de bebida e ele a ingere vorazmente. Porque está embriagado, cai na pilha dela e ameaça espancá-la. Dolores corre no quintal e, ao chegar ao poço, cronometradamente no momento certo do eclipse, pula. Joe pisa em cheio nas tábuas apodrecidas e despenca poço abaixo. Ninguém ouve os gritos, pois no momento certo, os barcos estão apitando. Passado o eclipse, Dolores vai à delegacia e registra o sumiço de Joe, que só é encontrado morto dias depois.
Voltando para o tempo da narrativa, acompanhamos o interrogatório de Dolores pelo detetive John Mackey, pois naquele tempo não conseguiu comprovar a culpa dela no assassinato do marido, tido por morte acidental. No presente da história, o detetive acusa-a de ter assassinado Vera, reforçando o caráter tirânico da patroa, nesse momento vítima de vários AVC’s paralisantes. Contudo sabemos que vera atirou-se do alto da escada por não suportar mais a vida presa à cama e à cadeira de rodas.
A belíssima adaptação cinematográfica
Em 1995, o diretor Taylor Hackford dirigiu o filme, que no Brasil se chamou Eclipse Total, com um elenco estelar: Kathy Bates no irretocável papel título, Jennifer Jason Leigh deu vida a Serena St. George, Devid Strathairn foi Joe St. George e Christopher Plummer como o detetive John Mackey.
A versão cinematográfica retira a narração da personagem principal e coloca no narrador onisciente em terceira pessoa. Essa perspectiva esclarece mais os caráteres dos personagens apenas pincelados no romance. Vemos Joe irascível, violento e abusador. Por conta disso, conhecemos os traumas de Serena, retornando agora adulta para ajudar a mãe nesse novo processo penal em que está envolvida.
Tanto o romance quanto o filme merecem detida atenção.
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