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ARTE

Ouvi dizer por aí que o Abba está ressuscitando, o que é uma boa notícia para a galera da discoteca (o pop da década de 80). Boite era coisa de velho e tinha cara de inferninho, mas a discoteca veio na onda da novela de maior sucesso daqueles tempos: Dancing Days, do recém falecido Gilberto Braga. Eu morava no interior de Goiás naquele tempo, numa cidadezinha de cinco mil habitantes, e, naquela época, 3 horas da capital.

vista atual de Jaraguá – no meu tempo essa igreja era bem mais modesta

Nossa janela para o mundo era a televisão. Víamos TV Globo, Tupi e Bandeirantes (se bem me lembro), mas a campeã de audiência sempre foi a do plinplim. Tudo era muito mais difícil, menos a alegria de viver. Tomar banho de rio, andar de bicicleta pela rua, conhecer quase todo mundo da cidade, uma sensação de segurança, bandos de crianças andando e brincando o tempo todo, comer fruta madura no pé. São lembranças que talvez o tempo tenha se encarregado de alterar e romantizar, guardando só o que houve de bom e jogando as pequenas depressões no oblívio.

Pela janela da rede Globo, ouvíamos as músicas internacionais das novelas, que depois levávamos para os bailinhos “melacueca”, festinhas nas garagens e salas dos coleguinhas e dos amigos. Tinha o momento dançar de rosto colado com as meninas, que era o auge, mas tinha também os momentos de dançar separado. Money, Money, Money e Dancing Queen eram presença garantida na lista de músicas.

O tempo passou, talvez rápido demais. Da inocência dessa adolescência interiorana para a fase adulta e de trabalho e descobertas em Brasília, foi um piscar de olhos. Aí, aos 33, com a economia brasileira bombando por conta do sucesso do Plano Real, consegui ir pela segunda vez à Europa. Fui visitar um amigo que estava morando em Bruxelas. Ele e o marido me levaram para muitas viagenzinhas próximas à cidade, que é um encanto. Uma delas foi para Amsterdã.

inflável da parada do orgulho gay de Amsterdã – 1998

No dia 1º de agosto de 1998, estávamos lá eu, Marcelo, Igor, Hans e Joris. Eu segurando vela para dois casais, mas tudo bem. Hans e Joris moravam  no canal do príncipe, onde rolou a parada do orgulho gay holandesa daquele ano. Foi divertidíssimo. Fomos juntos ainda para o estádio de Amsterdã para a cerimônia de abertura.

abertura do gay games de 1998

Nossa, meus sentimentos de viado terceiro-mundista foram arrombados naqueles dias. Cartazes da polícia inclusiva, dizendo que era ok manifestações de amor entre pessoas do mesmo sexo, teve até um anúncio de jornal, chamando para o alistamento militar, que dizia assim: “there are places more exciting than a dark room. The cockpit of a F16, for exemple. Join Dutch Air Force”. Em tradução livre: há lugares mais excitantes que uma sala escura. A cabine de um F16, por exemplo. Aliste-se à força aérea.

O trajeto para o estádio foi uma lôucura. Os holandeses já são altos. Agora imagine uma drag queen holandesa, em cima de uma plataforma de 25 cm e usando uma peça de cabeça cheia de penas. Acho que a pessoa chegava aos 3m de altura. E todo mundo espremido nos vagões do metrô. Muita piada, muita gozação. Bom demais!

O ponto máximo da cerimônia foi o prefeito descer numa plataforma pendurada por polias, no meio da quadra, acompanhado do grupo Abba, que deu um show excelente. O Casamento de Muriel e Priscila, Rainha do Deserto tinham sido lançado poucos anos antes e o conjunto fez parte da trilha sonora de ambos.

O público veio abaixo!

Essa é a minha história com o grupo Abba.

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