Vemos diariamente absurdos econômicos, corrupção de dinheiros e valores, abjeções morais da pior espécie e atentados diuturnos contra a vida, especialmente dos negros e dos mais pobres. No entanto, a preocupação do Ministério da Justiça é com uma lojinha de Ipanema que vende guloseimas safadinhas. Embargou a loja, proibiu o comércio e causou uma comoção.
Fico aqui pensando, uma reflexão que me assola de tempos em tempos: por que razão o cristianismo tem essa pauta de controle da sexualidade e essa associação do prazer ao pecado. Não faz sentido nenhum um deus criar um ser capaz de sentir tanto êxtase sensual e proibir o gozo. O pior é os seguidores desse deus quererem impor os conceitos por eles defendidos aos demais, que nem acreditam nesse tal deus, nem ligam para o abstrato conceito de uma vida posterior a esta de deleites eternos (mas sem sexo), numa glória anódina e insossa.
Quem quer gozar e não o faz, busca controlar o gozo alheio, e isso gera um comportamento opressor por parte de quem adquire o poder ou a liderança sobre outrem.
Fico pensando inclusive que essa sede de poder, de comandar, é gerada por essa frustração sexual.
Esse pensamento me veio a partir da leitura da seguinte notícia:
https://f5.folha.uol.com.br/voceviu/2022/06/crepes-em-formato-de-penis-la-putaria-ve-censura-e-recorre-de-proibicao.shtml?utm_source=twitter&utm_medium=social&utm_campaign=twfolha
Agora pensem comigo: a loja está lá, entra quem quer. Mas mais do que isso, por que o corpo, a sexualidade e o prazer têm de ser escondidos e reprimidos? Naturalizar a nudez, a genitália, é imprescindível para uma libertação de muitas violências, porque Eros é uma força poderosíssima. Neste ponto, os gregos tinham uma sacação legal. Para eles, Urano e Gaia estavam unidos num forte abraço estéril, até que a força de Eros se intrometeu e começou a gerar titãs.
Pensemos nisso, na libertação de todos os corpos.