Dois homens totalmente iguais enredados numa trama criativa e instigante, na narrativa inigualável do grande Saramago.
José Saramago é um dos escritores portugueses mais importantes de todos os tempos. O fato de ter recebido um prêmio Nobel de literatura pela obra-prima O Evangelho Segundo Jesus Cristo foi imprescindível para que todos nós o conhecêssemos. Dele, já li alguns títulos e só um não me agradou, que foi o Todos os Nomes.
Terminei de reler O Homem Duplicado recentemente, pois me intrigava não me recordar de quase nada desse romance tão peculiar. Beirando o surrealismo, Saramago nos conta as histórias entrelaçadas de Tertuliano Máximo Afonso, um professor de história pragmático e Antônio Claro, ator em ascensão na carreira cinematográfica.
Começamos acompanhando Tertuliano – Saramago sempre utiliza o nome completo quando o vai mencionar – em sua escola, e a relação polida, mas distante, que mantém com os colegas de magistério, exceto com o professor de matemática. Este indica um filme de nome estranho: Quem Porfia Mata Caça. Porfiar significa lutar, altercar, discutir. Tertuliano Máximo não gosta do título, mas assiste ao filme.
Durante a madrugada, é acometido por uma sensação, um sentimento de estranheza e acorda incomodado. Por isso, ao rever uma cena do filme, dá de cara com o empregado de um hotel que é a sua cópia perfeita. O desconforto o incomoda a ponto de não conseguir mais dormir. No dia seguinte, ao se encontrar com o professor de matemática, este o pergunta: reparou como há um ator que é muito parecido consigo?
O caminho do labirinto onírico/paranóico de Tertuliano
Pronto, o inferno de Tertuliano tem início. Resolvido a descobrir quem é seu duplo, aluga diversos filmes da mesma produtora para descobrir quem é esse ator. O autor descreve pormenorizadamente o caminho percorrido por Tertuliano e, ao final, descobre que é Daniel Santa-Clara o ator seu duplo.
A busca do duplo, por isso, se intensifica e nosso personagem inventa toda uma trama, envolvendo Maria da Paz, sua amante, a quem pede o nome para escrever uma carta ao ator e, portanto, descobre o nome verdadeiro de Daniel, que é Antônio Claro.
Os dois se encontram e este é o ponto de virada que levará ao final surpreendente, mas este não será revelado aqui, para vocês lerem o livro.
Uma adaptação fraca
Com base nesse enredo, Denis Villeneuve escreve uma adaptação franco-canadense para o cinema, mas ele altera muito a história. Jake Gillenhaal é o protagonista duplicado. Já no início do filme, o diretor opta por colocar um show erótico, levando a história para um lugar inexistente no romance.
O filme sai da atmosfera onírica do livro e vai para um lugar de fantasia inexistente no romance. Nem a fotografia, nem a interpretação dos atores salva o filme e por isso não consegui chegar ao final.
O magistral livro de Saramago pode ser adquirido no link abaixo:
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