Ontem assisti a esse filme excelente e perturbador, em que seguimos os últimos dias de um monstro abjeto e a trupe que o cercava.
Fazia algum tempo que eu queria ver este filme, mas ele não estava disponível nos streamings. Ontem o Film and Arts o exibiu no final da tarde. A narrativa dos últimos dias daquele que foi, durante muito tempo, o pior exemplo de ditador, de monstro brutal e de abjeção é uma viagem pelos meandros de uma experiência brutal da humanidade.
Digo isso de durante muito tempo o pior exemplo, porque hoje, no séc. XXI, com o decolonialismo, aprendemos que Leopoldo II, os Boeres, além dos colonizadores britânicos da América do Norte e os Ibéricos nas Américas Central e do Sul, foram absurdamente mais devastadores para as populações que julgavam inferiores.
Voltando ao filme: a ação se passa quase toda dentro do bunker em que Hitler se refugiou com sua entourage quando as forças soviéticas cercavam Berlin. Somos transportados para as angústias e delírios de um ditador em fim de carreira, mas que ainda se julga profundamente poderoso. A interpretação de Bruno Ganz é uma aula de atuação. Ele se aprofunda na paranoia e nos delírios de grandeza do monstro, muito embora vários dos militares que o cercam já dão por certa a derrota.
O fanatismo é a tônica do nacional socialismo
Uma das questões que mais me pegou foi a forma como os seguidores estavam cegos. A cena da família de Goebbels dói na alma, pois Fraulein Goebbels executa impiedosamente a família inteira. É dela a cena mais patética, se ajoelhando aos pés do ditador, implorando aos prantos para ele permanecer. Também é ela quem diz: “não quero sobreviver num mundo onde não haja mais o nacional-socialismo!”
A tensão da guerra transpira no filme inteiro. Vemos soldados extravasando as tensões em festas devassas, consumo de drogas para dar conta loucura dos alemães cercados pelos soviéticos. Vemos o ditador, por se sentir acuado, cada vez mais afundado num delírio de grandeza e, por isso, considera todos traidores.
A vitória dos soviéticos é mostrada no filme
Ao contrário da fábula de que estadunidenses venceram os nazistas, o diretor Oliver Hirschbiegel é fiel à história real e, por conseguinte, conta como foram os soviéticos que realmente depuseram o nazismo. O suicídio de Hitler e de sua esposa Eva Braun estão lá. Acaba com a teoria da conspiração de que ele teria fingido sua morte. Impressionante também que, até o fim, ele crê na possibilidade de ressurreição do regime.
É o tipo de filme que nos revolta, porque é real demais. Conseguimos ver o quanto é plausível que os fatos tenham realmente ocorrido daquela forma. O filme já tem 20 anos de lançamento e tem tudo para se tornar um clássico.
O DVD está disponível na Amazon:
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