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LITERATURA

Como sempre, estou lendo alguns livros. Estou pela metade no magnífico Um Defeito de Cor, da Ana Maria Gonçalves. Um tijolo de 947 páginas. Tijolo é um ótimo adjetivo para este livro, porque além de grande, grosso, é sólido e nos atinge na cabeça como uma pedrada, abrindo horizontes para a compreensão da questão racial no Brasil. A história é contada por Kehindé e acompanha desde sua saída da de Savalu, vila do antigo Daomé e todas as peripécias por que passou. Estou pelo meio do caminho, na página 471. Faltam menos de quinhentas páginas, mas já começo a me despedir dela, porque sei o quanto sofrerei ao ter de deixá-la. Quando terminar, relatarei tudo aqui, mas já posso adiantar que, para quem se interessa na luta antirracista, esta leitura é fundamental.

O segundo livro é culpa do João Luiz de Souza, meu querido João do Corujão. Ele tem batido papo com as pessoas à noite em sua página de facebook. Considerando que é um homem de poesia, de letras e da divulgação cultural de substância, tem um ótimo alcance. Outro dia, disse que relia Cem Anos de Solidão. Eu já li 18 vezes e estou na décima nona. Há 3 dias que não abro, porque foi a primeira vez que terminei um capítulo com lágrimas nos olhos. A cena do José Arcadio Buendia sendo amarrado ao castanheiro do quintal me enterneceu. O homem é uma potência cataclísmica.

Por fim, consegui retomar Kindred – Laços de Sangue, de Octavia Butler, uma estadunidense autora de ficção científica. Este livro trata também de racismo estrutural, como o livro de Ana Maria Gonçalves, mas a narrativa de Octavia é muito mais contundente e não é sempre que consigo atravessar o sadismo descrito naquelas páginas. Não que Ana Maria não descreva as atrocidades cometidas pelos senhores escravocratas nacionais, mas, diferente da estadunidense, a brasileira apenas pincela. É como se esta pintasse uma cena urbana contundente, contendo as injustiças e as desigualdades às quais cotidianamente nos acostumando como parte da paisagem e num canto, ou num ponto qualquer da tela, alguém enfie a faca numa vítima. Mas é preciso prestar atenção para este ponto. Octavia é crua. A pintura dela é o assassinato.

Assim que o livro da Ana Maria é menos dolorido de se ler.

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