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Hoje, enquanto ia ao almoço, vi numa banca de jornal a capa da revista IstoÉ, que, rivalizando com a Veja, estampava uma montagem fotográfica do candidato José Serra. Passou pela minha cabeça o quanto tenho estado desanimado com a política. Não é o meu hábito. Tudo bem que, depois de morar três anos no Rio de Janeiro, estou muito mais alienado da política nacional. Mal leio os jornais e, quando o faço, é sem a atenção necessária. A coluna do Merval é chata e as análises políticas dos colunistas da Folha são por demais tendenciosas. Leio, quando muito, o segundo caderno para ver se há alguma peça interessante. Não era assim. Eu costumava acompanhar com atenção a movimentação político-eleitoral, as estatísticas, pesquisas.

Mas, além dessa alienação, os atuais candidatos à presidência da república são completamente vazios de conteúdo e não animam nem acendem em mim a mínima chama de paixão pela atual política. Os rumos adotados pelo presidente Lula, muito embora tenha obtido aprovação, ao final do segundo mandato, de 80%, são muito diferentes do meu sonho de País. Não vejo nesse governo nada que tenha sido feito pensando num futuro mais distante. A infraestrutura está desgastada, as estradas em petição de miséria, dentre outras coisas.

Quanto aos candidatos, o Serra é do PSDB, cujos pecados principais, durante os oito anos de governo FHC foram a associação ao que  há de mais retrógrado coronelista em nossa política, a ARENA/PDS/PFL/demo, cujo fisiologismo só perde para o PMDB, também aliado de primeira hora, mas não de última; a destruição do já depauperado sistema educacional brasileiro e, por fim, mas não menos importante, o desmonte da Biblioteca Machado de Assis. Além daquela cara de porteiro de cemitério, de segurança de necrotério do Serra, todos esses fatores do governo fernando henrique me fazem ter uma suprema antipatia do candidato do PSDB.

Com relação à Dilma, vejo nela tão somente uma burocrata, vazia de conteúdo político, fabricada pela inteligência do Lula. Ela não me representa, tem tanto carisma quanto uma abóbora d’água e ainda por cima fica dando uma de carola de última hora, com um discurso retrógrado, voltado a não perder os votos de um bando de crentes hipócritas, que querem impor a opinião deles sobre o resto do mundo, porque acreditam que o deus deles é melhor que o dos outros.

Então o debate político ficou resumido a quem é a favor do aborto e do casamento gay, além de umas quantas denúncias de corrupção de ambos os lados, com ênfase para o atual governo, lógico. A quem importa, do ponto de vista das Políticas Públicas, se os gays poderão ou não se casar. Com relação ao aborto, é outra história. A questão é de primeira grandeza dessa perspectiva, porque quem precisa abortar o faz com todos os dramas de consciência envolvidos no assunto, mas além disso, com todos os riscos envolvidos com a clandestinidade, mas com relação ao amparo dos direitos civis dos homossexuais.

Ou seja, todos os problemas de fato interessantes ficam de lado: as mudanças climáticas, as políticas consumistas, o analfabetismo funcional, a infraestrutura, o déficit habitacional urbano, a extrema violência urbana e rural, a tão atrasada reforma agrária e, mais importante que tudo, a questão ambiental, que ambos desprezam solenemente. Para que serve tudo o que está sendo feito hoje, se não houver amanhã?

Tudo isso me faz passar por esse desencanto. Espero ser somente uma fase.

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