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Dois fatos chamaram a atenção na semana passada: Teófilo Otoni e Edir Macedo. São conteúdos distintos do mesmo penico. No primeiro, o humorista Gustavo Mendes, famoso por fazer uma excelente candidatura da Presidenta Dilma Russeff, foi atacado por bolsonaristas na minúscula cidade de Teófilo Otoni, reduto de latifundiários e barões de um baronato em decadência. Uma meia dúzia de três ou quatro o quiseram agredir, impedir de falar mal do atual presidente, cujo nome me recuso a reproduzir, e foram imediatamente postos para fora do teatro. Bela e corajosa a atitude de Gustavo Mendes. Ele sempre deixou clara a posição contrária aos ventos autoritários e nazifascistas que sopram atualmente em terras auriverdes e, por isso, nenhum desses boçais pode dizer que não sabia o que ia acontecer.

Oras, é um show de humor, comédia que se faz de pé, sozinho no palco, exposto e expondo o que há de mais ridículo e risível na sociedade. Normalmente falam de sexualidades, da própria e da alheia, de situações vexatórias, de causos engraçados. O engraçado é isso, o que diminui o outro. Por isso é bom fazer comédia dos poderosos, para reduzi-los às situações humanas e cotidianas, e mostrar que não passam de meros mortais, iguais a todos os outros. A aura de poder é falsa. Os vermes nos comerão a todos, quer sejamos reis ou mendigos. A terra em que nos transformaremos é a mesma. E se houver um “lado de lá”, sofreremos igualmente as penas ou gozaremos das recompensas. Repito: Gustavo foi corajoso. É preciso sê-lo, cada dia mais. Os tempos estão sombrios por conta de uma minoria, mas essa minoria é muito estridente e histérica. Faz barulho e chama a atenção.

Em outro momento, temos Edir Macedo, líder de uma igreja que cresce na mentira e na enganação, opressora, rapace e hipócrita, ungindo a cabeça do tal presidente. Se isso não fosse nojento o suficiente, ainda há um discurso subliminar que me apavora. Em pouco tempo podemos estar vivendo numa teocracia neopentecostal. Alguns me acham exagerado quando toco nesse assunto, mas há vários exemplos na história de populações oprimidas por uma ideologia metafísica transcendental. O exemplo mais recente é o Irã. Em meados da segunda metade do séc. XX o Irã era uma sociedade ocidentalizada. As mulheres frequentavam universidades, eram livres para trabalhar e estudar. A crise do petróleo introduziu um fator crucial na relação de poder e uma revolução islâmica radical roubou delas todas essas conquistas. Hoje a mulher é obrigada a usar burca, ser submissa, não pode trabalhar, e, até bem pouco tempo, nem dirigir automóveis podia.

Não pensem que isso é um exagero. Essa tal IURD prega a submissão da mulher ao marido. Diz que o homem é a cabeça do casal e, em todos os casamentos, a passagem bíblica recitada é a da insignificância da mulher. Esquecem da verdadeira mensagem do Jesus: todos são iguais. A uma mulher ele teria aparecido pela primeira vez. Uma mulher era a sua seguidora mais fiel e a uma pecadora ele perdoa numa das mais lindas passagens bíblicas. Temos de nos manter firmes. Essa onda vai passar. Mas temos de estar atentos e fortes, para que não nos atropele e nos mate a todos, nem nos afunde em décadas de obscurantismo e opressão.

Cuidem da imagem de um presidente ajoelhado frente a uma figura religiosa, diante de um altar construído para a hipocrisia. Cuidem do poder que essa criatura está exercendo sobre as figuras da república. O que ele quer é o poder terreno, o mundano dinheiro, o controle das mentes e dos corações. Deus, se existe, é livre e ilimitado e eu duvido que compactue com esse poço de maldades proferido pelo atual ocupante da cadeira do Planalto. Atenção! O momento é de muita atenção aos sinais que se anunciam.

0 resposta

  1. Também achei o comediante corajoso. Não precisa ele devolver o dinheiro para os imbecis. Quanto a Igreja Universal, não tem retorno. As igrejas neopentecostais chegaram pra valer, em todo ocidente. A teoria da prosperidade é pregnante frente a miséria (inclusive a subjetiva) do sujeito.

  2. Também compartilho dessa tua visão, Cris, sobre o risco de uma ditadura teocrática cristã neopetencostal. Sinto calafrios, e penso que não devemos nos descuidar. Vejo gente que teve acesso a educação, que fez mestrado, doutorado etc, mas que deixa sua visão de religiosidade levá-los a assumirem e a corroborarem posturas extremamente radicais. Observo o Brasil de 2019 e, como você, tenho medo de virarmos um Irã.

  3. Também compartilho dessa tua visão, Cris, sobre o risco de uma ditadura teocrática cristã neopetencostal. Sinto calafrios, e penso que não devemos nos descuidar. Vejo gente que teve acesso a educação, que fez mestrado, doutorado etc, mas que deixa sua visão de religiosidade levá-los a assumirem e a corroborarem posturas extremamente radicais. Observo o Brasil de 2019 e, como você, tenho medo de virarmos um Irã.

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