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Fui católico até os 16 anos. Acho que já falei isso aqui várias vezes, mas desta vez é por causa do próprio catolicismo que digo isso. Deixei a igreja quando as primeiras dúvidas sobre a sexualidade apareceram. Frei Dorvalino não foi capaz de me responder algumas dúvidas e eu acabei deixando de ir à missa. Jamais consenti que eu fosse seguidor, influenciado ou assediado pelo demônio.

Afastei-me e depois fui estudar história, ler bastante e, em consequência, tornei-me ateu. As histórias da inquisição, o apoio à escravidão, o apoio à ditadura militar, dentre outras atrocidades da igreja católica me fizeram repudiar a doutrina. Achei hipócrita. No altar o padre pregava o amor de Jesus e pelos fundos das sacristias entregava almas ao braço secular para torturar e matar. Isso no Séc. XX, porque do XII em diante era pela porta da frente mesmo. Hereges e bruxas eram queimados às centenas em autos de fé. Todavia a heresia era apenas o fato de pensar diferente dos dogmas absurdos e bruxas eram apenas as mulheres que não se adequavam aos padrões de comportamento machistas e opressores.

A igreja católica não melhorou ao longo dos anos. Ritos, pompa, riquezas, hierarquias, tudo contrário à pregação dos Evangelhos, mas totalmente alinhados à ideologia dominante, seja das monarquias, seja das repúblicas oligárquicas. Ao longo dos anos foi se apossando de mitologias dos pagãos para iludir as populações locais e difundir a opressão católica. Chegamos, então ao solstício de inverno. O solstício de inverno, no hemisfério norte acontece na data que hoje nomeamos de 21 de dezembro. São 3 noites muito longas, 21, 22 e 23 de dezembro. Quanto mais próximo ao polo norte, mais longa a noite. O dia dura uma hora ou duas, mais ou menos. A estrela polar fica estacionada no horizonte e retorna ao movimento no dia 24. É como se a luz renascesse.

Para os antigos, esse mistério era muito impressionante. A luz ia sendo devorada dia a dia, a partir do equinócio, até o solstício. O mal vai vencendo o bem, a escuridão vai vencendo a luz, o frio vai vencendo o calor. Imagina você, sem as tecnologias e os conhecimentos atuais, tentando sobreviver na tundra, com lobos e grandes felinos tentando te devorar. A claridade era o bem, a escuridão assustadora. Os melhores ingredientes para um bom mito.

Quando os romanos levaram o cristianismo para os nórdicos, as celebrações do solstício de inverno foram incorporadas com o nascimento de Jesus. Afinal, era o nascimento da luz, bem fácil de sincretizar. Isso é totalmente irrelevante. Se houve de fato um Jesus histórico, ele não pode ter nascido em dezembro. Mas a festa vale.

Ao longo do tempo, a mística envolvendo o nascimento do nazareno foi se transformando. Primeiro Nicolau de Mira começou a dar presentes e se tornou papai Noel. Um milênio depois a Coca-Cola apropriou-se da festa e tornou-se o maior sucesso comercial de todos os tempos. Milhões de pessoas compram, compram e compram. Viagens, presentes, ceias, luzes, enfeites, comemorações nas empresas, ou seja muito dinheiro circula esta época do ano em todos os lugares onde se adora Javé e Jesus. A mensagem do Messias, contudo, fica meio esquecida.

Eu deixei de ser cristão aos 16. Aos 27 conheci a Umbanda e aos 32 me iniciei no Candomblé. Embora respeitemos as outras religiões, os africanos escravizados não acreditam no Cristo. Eu respeito, já li os Evangelhos, alguns livros do velho testamento, mas não consigo acreditar naquele sistema de mitos. Não me parece lógico, não me toca. Já o transe, a possessão pelo Orixá/Inkice, são as provas da minha fé.

Mas voltando ao Natal, venho sempre passar o feriado junto a minha mãe. Nesses 54 anos, só uma vez não vim para Goiânia. Foi péssimo. Sempre passo aqui, e sempre respeito a crença de minha mãe, mas não fico sempre pensando no quanto essa festa deixou de ser religiosa e passou a ser simplesmente mercadológica.

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