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LITERATURA

Há um assunto que sempre me incomodou, que é a falta de coerência dos vilões. Uso o termo na falta de um melhor. Seja do valentão da escola, seja do bandido perigoso do morro, ou ainda do político mau caráter, todos querem se dar bem e que o oprimido não reaja. Não sei se é só falta de empatia, de saber que o outro também é humano e sente dor e fome, ou ainda a inebriante sensação de poder sobre os demais, mas o fato comum a todos é: faço o que quero e não admito resposta à altura.

Os exemplos são vários e nos escancaram a situação diariamente. Nesses tempos extremos, então, estão se tornando cada dia mais corriqueiros. Comecemos com aquela moça loira, “líder” (hahahaha desculpem, a mulher lidera 15 gatos pingados psicóticos e se acha líder de movimento) dos 300. Para ela, é certo prender “comunistas” (hoje pra ser comunista basta discordar da criatura inominável) está certo, mas pra cima dela, que tem táticas abusivas, espalha as famigeradas fake news, prega a revolta armada e, por fim, comete o crime de criação de milícia paramilitar, a polícia não pode agir. Em segundo lugar, temos aquele deputado estadual por São Paulo: divulgou numa rede social um anúncio pedindo que os dados de antifascistas lhe fossem repassados para as providências legais. Minutos mais tarde, a Anonimous divulgou todos os dados dele e ele ameaça com processo. Em terceiro, vi esse twitter hoje: https://twitter.com/vossacarestade/status/1267592606898425857

Nele, o sujeito fala que o policial não pode ser antifascista, mas se esquece do quanto a polícia tem defendido os fascistas. A imagem do soldado se abraçando e oferecendo apoio à sujeita portando uma bandeira estadunidense na cara e um bastão de baseball durante as manifestações de 31/5/2020 na av. Paulista são estarrecedoras e reveladoras do tratamento diferenciado. Quando professores protestam por melhores salários, a praça vira um campo de guerra, de um lado, as pessoas mais importantes da sociedade, desarmadas e pacíficas; do outro, os cães da “ordem”, armados até os dentes e prontos para a agressão física. Jamais vi, do lado dos “cidadãos de bem”, defesa dos professores.

Chegamos ao quarto exemplo, mas neste serem bem sucinto, porque tenho náuseas cada vez que menciono ou me lembro da família execrável montada na cadeira presidencial. Ele sempre se arvorou como matador, torturador, golpista, mas quando é ameaçado, se esconde. Os exemplos são abundantes, não vou me delongar com essa criatura, chega!

Por fim, estamos vivendo um grave momento de enfrentamento da população afrodescendente nos Estados Unidos. Essas crises de violência são recorrentes. Os negros estão reagindo a uma violência contínua, exercida sobre seus corpos desde o século XVI, quando as plantations e o sistema escravocrata das Américas se instituiu como forma de produção. Populações inteiras de tribos africadas eram covardemente capturadas, escravizadas e transportadas em tumbeiros para o continente americano, para enriquecer as metrópoles europeias. Essa violência se manteve e se perpetua até os dias atuais. Então, quando vejo a reação, só penso que é leve e insuficiente para reparar o absurdo perpetrado. Mas os brancos se sentem ultrajados! Oras! Eles que se explodam!

Citando Angela Davis, numa sociedade racista, não basta não ser racista, há que ser antirracista!

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