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DIVERSOS

A triste festa da democracia carioca

Hoje é dia 28/11/2020, sábado. Um lindo sábado de sol, prenúncio de um verão escaldante. Estou de férias do meu emprego público e tenho tempos para nada fazer. À tarde vou arrumar a seção eleitoral da qual sou presidente da mesa receptora de votos. Eu gosto muito de trabalhar nessa função por várias razões. A mais forte é a folga em dobro pelos dias trabalhados, lógico. Como tenho duas funções, uma remunerada e outra mais exigente em termos de dedicação, mas que nem sempre rende um qualquer (pra falar a verdade, jamais tirei um tostão da atividade teatral), as folgas são imprescindíveis para possibilitar a execução de projetos.

Vista de Ipanema de manhã – foto minha mesmo

É sempre bom ter um dia na manga para ir a um ensaio-geral no meio da semana. Passar o dia todo no teatro, afinando luz, som, movimentação, cenário, revisando figurino. Nesse ambiente, sinto-me como um peixe no rio, uma ave voando. Meu ambiente.

Outra coisa é ver o povo indo exercer esse dever/direito cívico. Gosto de eleições, gosto de clima de votação, da movimentação dos cabos eleitorais, das campanhas. Sou fã número 1 de democracia. Depois dessas coisas, gosto também de ter a sensação não apenas de ver, mas de estar, de alguma forma, colaborando com o pleno exercício democrático e cidadão.

Este ano, no entanto, vários fatores nos entristecem. Em 2018 o Brasil foi assaltado por uma gente muito escrota, uma gente deletéria. Levantou-se do esgoto um odor fétido de sangue apodrecido, rancores, ódios classistas e desejo autocrático. Estamos há dois anos sendo governados por um sujeito que não passa de um arruaceiro de quinta-série, alguém que está na pré-puberdade, cujo entendimento da vida é deturpado pelo ódio ao outro, ao diferente dele.

Passado o tranco da eleição e da posse, as catástrofes ambientais causadas pelo capitalismo desenfreado, pela nossa sede de consumo, acordaram um vírus perigosíssimo, que se alastrou velozmente pelo mundo. Em alguns países, especialmente os governados por mulheres sensatas, o nível de contaminação ficou dentro de um panorama aceitável e vidas foram salvas. Na contramão disso, EUAN, Brasil, Inglaterra e outros, governados por homens brancos velhos senis, caquéticos representantes de uma ideologia funesta, tornaram o que já seria um enfrentamento difícil numa verdadeira catástrofe humanitária. O número de mortes desses Países é assombroso, gigantesco. E o desrespeito pela vida humana demonstrado por seus dirigentes deixou perplexa grande parte do planeta.

Em meio a esse cenário, a disputa das eleições municipais mostrou toda a peculiaridade. Eu sempre defendo que é a eleição mais importante de todas, porque estamos perto desses representantes e do executivo municipal. Além disso, é onde as verbas oriundas da União e dos Estados é aplicada na solução dos verdadeiros problemas cotidianos. Desde um esgoto rompido à distribuição da verba da saúde, da limpeza das ruas à reforma de escolas, do asfaltamento ao cuidado com a população mais carente, tudo é planejado, votado e assinado entre a Câmara dos Vereadores e a Prefeitura.

Vista de Copacabana, tomada de uma janela de hotel da orla – foto minha também

Aqui no município do Rio de Janeiro, estamos convivendo desde 2017 com a PIOR administração de todos os tempos. A inépcia do atual bispo da IURD e dublê de prefeito é tão enorme, tão gigantesca, que ele conseguiu desagradar gregos e baianos, goianos e cearenses, mas principalmente os cariocas, nascidos ou adotados. E por conta disso, e por temermos uma segunda vitória dele sobre alguém com posições mais à esquerda, na base de mentiras e falsidades, estamos reelegendo, para um terceiro período frente à municipalidade, o Eduardo Paes.

Não dá pra saber antecipadamente o resultado do pleito, mas de acordo com as tendências estatísticas, Paes, do Democráticos, cujo DNA partidário está arraigado profundamente nos porões da ditadura cívico-militar das décadas de 1960 a 1980. É o herdeiro direto da Arena. E eu vou ter de votar nele, contrariando todas as minhas convicções políticas e ideológicas, tudo porque, 4 anos atrás, elegemos a ignorância, a crueldade, a vileza, o desprezo pela vida humana.

Há, lógico, muito mais probabilidade do candidato boa praça e boquirroto do DEM, o Eduardo Paes, vencer esse pleito. É o que eu desejaria para a cidade? Não, longe mesmo disso é o que penso. Mas, mal ou bem, de 2009 a 2016 ele foi prefeito – pRefeito, não peRfeito. Mas enfim, ninguém o é. Errou em algumas coisas, acertou em outras. Conseguiu uma boa convivência à direita e à esquerda, no nível nacional, o que é difícil, mas não impossível. Então este ano, vou de demônio conhecido.

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