|

Pesquisar
Close this search box.

Estou diante de uma tela plana de computador, ligado a uma rede multitudinal, em que opiniões – inclusive as minhas – são emitidas todos os dias. Já falei o quanto a contemporaneidade nem me parece um tempo, mas um espaço. Quando me lembro dos tempos de infância, vivida em uma cidade pequena do interior de Goiás, um Estado esquecido de um País periférico, parece que eu vivia em outro planeta.

Já havia luz elétrica e a tv era um centro de interesses na sala de visitas. Jornalísticos, novelas, seriados enlatados, desenhos animados, alguma cultura viajavam através do espaço e nos alcançavam, trazendo informação e padrões de comportamento ao qual almejávamos. Entravam em nossa casa padrões estéticos e econômicos inalcançáveis e ilusões à mancheia.

Me lembro de ir ao sucesso com Hollywood – não o cinema, mas a marca de cigarros; da boa ideia que era a 51, a caninha mais popular do Brasil; de ir mais longe com um Corcel 80 – não o cavalo, o carro da Ford, que hoje nos abandona para se estabelecer numa Argentina governada por um partido mais progressista.

A vida era tão simples. Não tínhamos nem telefone fixo em casa, coisa de gente de posse. Andava de bicicleta, tomava banho de rio, jogava queimado, estudava e brincava. A adolescência ainda tardaria a me alcançar, mas a noção de pecado já estava muito bem implantada pela igreja católica.

E isso foi somente há 45 anos. Para se ter uma noção do quanto isso é um piscar de olhos em termos de história, a imprensa de tipos móveis foi inventada por Guttemberg em 1450 e esse modo de fabricação de impressos só foi alterado no Séc. XX, com a invenção do fotolito. Até o Séc. XIX, retratos eram obras de arte, mas com a invenção do dagerrótipo, e a fotografia, as artes plásticas puderam se libertar do figurativo. Ou seja, tudo demorava muito a se transformar.

Durante a Grande Guerra de 1939/1945 (não gosto de chamar de segunda guerra mundial, porque a primeira foi bem uma guerra europeia e os historiadores achavam que a Europa era o mundo todo. Esta guerra teve muitos mais continentes envolvidos e, por conseguinte, quase atingiu o mundo todo), um camarada inventou o processamento de dados e o computador, e a partir daí, a evolução tecnológica foi assombrosa. Devemos isso a um matemático homossexual que já foi até tema de filme, o Alan Turing e também ao olhar visionário de Ada Lovelace, que no século XVIII criou o primeiro algoritmo e abriu portas para a programação. Ada acreditava que qualquer tipo de conteúdo, como música, texto, imagens e sons, poderia ser traduzido para a forma digital e manipulado pela máquina. Ela já visualizava aquilo que viria acontecer nos computadores atuais.

Quando em meados da década de 1990 a internet chegou ao mundo, aí vivemos um ponto de virada excepcional. A troca de informações ponto-a-ponto, que outrora era por intermédio de cartas, cujo trâmite podia demorar dias, se tornou instantâneo. Saber das notícias e das pesquisas também. O acesso à informação foi democratizado e com um poder astronômico de libertar as pessoas. Mas, aquele algoritmo que Ada criou, de certa forma foi utilizado para escravizar e desinformar o mundo.

Não é por um acaso que Tim Berners-Lee, um dos criadores da Internet, divulgou recentemente uma carta, onde diz que a Web precisa ser libertada. Seria como se o criador da roda alertasse à todos sobre o poder bélico da sua criação.

A Internet tornou-se um novo campo de batalha entre os governos que censuram o conteúdo online e aqueles que defendem a liberdade de navegar, postar e compartilhar informações online para todos, independentemente de seu local de residência. As teias da grande rede vão sendo desmanteladas e o povo sofre nas mãos de tiranos. Mas a tecnologia não tem o poder de oprimir, a falta de informação sim.

Hoje temos a robótica, os telefones celulares, a transmissão de áudios e vídeos. A quantidade de informação transmitida diariamente é incalculável e todos os nossos dados estão armazenados na nuvem, vagando pelo Planeta.

Toda essa transformação tecnológica nos tornou mais livres? Nos fez mais capazes de expandir e utilizar plenamente nossas capacidades e talentos? Não sei. Mas o custo social disso é imenso. E hoje, além de tudo isso, estamos presos a redes sociais, que desinformam e hipnotizam aqueles que não utilizam a web para expandir o conhecimento.

É muito fácil culpar a tecnologia pela exploração trabalhista que corre solta no mundo. Mas uma pessoa que procura o Uber como opção de trabalho, está realmente preparada para o século XXI?

O CEO da Apple já foi pressionado para contratar somente Americanos nas vagas de emprego da gigante tecnológica. Tim Cook respondeu que se eles forem preparados como todos aqueles que procuram a empresa, certamente eles serão contratados. A tecnologia tem o poder de libertar, mas boa parte do Mundo insiste em retroceder. Sempre foi assim. O Homem tem medo do novo e do futuro. Como diz Caetano Velloso em Sampa “à mente apavora o que ainda não é mesmo velho.”

A tecnologia tem o poder de mudar o mundo, é inevitável que robôs e inteligências artificiais ocupem cada vez mais as vagas de trabalho que foram criadas no século passado. O mundo já tem consciência sobre isso e cada vez mais pessoas debatem a necessidade de uma Renda Básica Universal.

A tecnologia move o mundo e o homem deve estar preparado para esse futuro.

Em parceria com www.mobdica.com

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *