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TEATRO

Correspondentes Quarentenades

O professor de Letras da Unirio Marcelo dos Santos, no início da pandemia em 2020, teve a brilhante ideia de aplicar um pouco do objeto de estudo que desenvolvia aos novos tempos que se avizinhavam. Como todos nós, no início, imaginávamos ficar 15, no máximo 30 dias aprisionados em casa, afastar a contaminação generalizada e voltarmos aos tempos de abraços e carinhos. Ele, então, sugeriu a algumas pessoas que criassem pseudônimos e começassem a escrever cartas, correspondências eletrônicas, para outrem.

Uma das alunas dele, minha querida professora Susanna Kruger, estava num outro processo, estávamos experimentando cenicamente por televideoconferência (desculpem o neologismo), a apresentação de uma peça escrita por Jô Bilac. Estava indo bem, mas o fim do ano de 2020, com alguns dos integrantes da oficina comprometidos com outros trabalhos, se afastaram.

Foi a vez de seguir os caminhos de Dionísio. É ele que manda na coisa toda. Susanna, então, escreveu um projeto lindo, baseado nas correspondências encaminhadas para o site do professor Marcelo. Nós, atores, escolhemos uma carta, fizemos uma cena inspirada nela e começamos a trabalhar.

Não foi um processo fácil, especialmente para mim. Eu não sou a pessoa mais criativa do planeta, aliás, estou distante anos luz disso. Gosto de já ter um roteiro pré-definido, sobre o qual coloco meu processo de criação de personagem.

Enfim, cartas lidas, selecionadas, cenas escolhidas, Susanna chamou ator e atrizes profissionais mais experientes e com carreiras mais estabelecidas para dialogar conosco, iniciantes. O elenco foi então formado por Akemi Ono, Ana Paula Secco, Cris Santos, Cristovam Freitas, Duda Person, Grazi Neves, João Sant’Anna, Karina Ramil, Lincoln Oliveira, Mel Lisboa, Sulamita Gonçalves e Vanessa Pascale. Nós da oficina ficamos um tanto ansiosos, porque como o leitor pode perceber, os atores que se juntaram ao elenco são muito bons!

Tudo caminhando, eu tive duas perdas muito importantes no processo. Minha mãe caiu, sofreu traumatismo craniano e, no dia 11/3/2021, às 8h da manhã, não resistiu e nos deixou. Eu estava em Goiânia e, mesmo com todas as dificuldades internas e externas, consegui participar do encontro virtual daquela sexta-feira, 12. Em seguida, na véspera da estreia, no dia 16/4/2021, a pessoa que me iniciou no sagrado nos deixou em função de complicações da Covid.

Nesses momentos é que descobrimos o que é vocação apaixonada e comprometida e o que é só uma vontade. Eu segui em frente, lidando com a dor da perda, mas sem deixar de operar no meu ofício.

Foram 8 apresentações, de 17 a 21/4/2021, cada um dos atores ao vivo, transmitindo pela plataforma Zoom, com a luxuosa operação técnica do meu comparsa Tomás Ribas e sob a batuta da já multicitada Susanna Kruger.

Foi a minha segunda temporada profissional, mas desta vez, ao contrário da primeira, eu estive longe das questões de produção e pude atentar mais para o lavor de criar. O resultado foi efêmero, como deve acontecer no teatro. A cena acontece naquele momento e ali fica plasmada ou não na memória dos espectadores em quem toca.

No entanto, o trabalho criativo pode ser visto no site da professora Susanna Kruger:

https://www.susannakruger.com/informaes

Não é porque sou um dos integrantes do elenco, mas recomendo fortemente a visita ao site!

E viva Dionísio.

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