Russell Crowe volta no papel de Gabriele Amorth, o exorcista do Papa, encarnando um personagem real, que exerceu a função de expulsar demônios até o séc. XXI.
O exorcista do papa
Filmes de terror, especialmente estes cujo tema é a existência do demônio, tendem a me fazer mais rir do que temer. Em primeiro lugar, para nos assustarmos com isso, temos de partir da premissa de fé da existência de um Deus único, representante e personificação do bem absoluto, e um anjo caído, representante do mal absoluto. No entanto, o filme prende, principalmente porque o roteiro foi muito bem construído.
Com tiradas de humor, bem expressadas pela personagem principal – é até um tanto estranho, ver Crowe fazendo uma ou outra graça. É porque ele fez Bud White (em Los Angels, Cidade Proibida), Máximus Décimos (O Gladiador), Noé (Noé), todos personagens muito sérios. Por conseguinte, as pequenas blagues dão o tom que se deseja para o peso que o filme tem.
Outros filmes sobre exorcismo
Desde O Exorcista, de William Friedkin, baseado num romance de Peter Blatty, o tema de possessão demoníaca nos encanta nas telonas. Em 1973, os efeitos eram mais, digamos, pueris, porque eram muito menos tecnológicos. No entanto o excelente trabalho de Linda Blair, no papel da menina possuída, as cenas de vômito de vitamina de abacate, o brilhante Jason Miller, na pele do exorcista Damien Karas, ainda hoje são capazes de nos transportar para dentro da história.
A franquia de Invocação do Mal é também um ótimo exemplo de filmes sobre a temática. Vera Farmiga e Patrick Wilson, o casal protagonista, são profissionais brilhantes das artes dramática. Vera, como Lorraine Warren, fascina a audiência nos três filmes da franquia, com destaque absoluto para o segundo filme da série, em que eles viajam para Londres, a fim de investigar o fenômeno de possessão de uma casa.
O exorcismo visto pelo maniqueismo.
Por mais que eu goste dos filmes, especialmente por conta dos roteiros bem escritos, das atuações e dos efeitos, não consigo me assustar. Talvez porque tenha perdido a fé na igreja católica aos 16 anos e essa ideia de bem e mal absolutos não façam mais parte da minha crença. Isso porque a psicanálise me ajudou a perceber que somos seres muito complexos, com desejos, virtudes, defeitos e outras facetas incrivelmente intrincadas e decorrentes de todas as nossas experiências.
Outro aspecto da possessão demoníaca dos filmes que me incomoda um pouco – e que tem reflexos na minha observação dos cultos neopentecostais – é que Satanás vai sempre atrás de pessoas, indivíduos desimportantes. Regan, essa família de classe média britânica, o garotinho Henry são personagens desimportantes na ordem mundial.
Na mesma direção, vemos as cenas dramáticas de igrejas neopentecostais, em que pessoas humildes se dizem possuídas. O teatro dos pastores é cada vez mais patético, na minha opinião. Todavia, esse teatro leva os fieis desse tipo de templo a uma espécie de delírio e eles acreditam estar realmente sob a influência do mal.
Nesse aspecto, eu sempre fico pensando: se eu fosse Satanás, com todo o poder místico e sobrenatural, eu iria atrás de chefes de poder de países muito ricos e os influenciaria a invadirem e massacrarem populações mais pobres. Usaria como desculpa combater o terrorismo e implantar um regime democrático. Ainda por cima, sairia com uma boa quantidade de combustível fóssil, que vai degradar o Planeta Terra de tal forma que a sobrevivência dos humanos será impraticável.
A possessão da igreja católica e as maldades do passado
A tese inovadora do exorcista do papa, no entanto, é vincular a inquisição a uma possessão de um exorcista do final da idade média. Não sei se há algum financiamento da igreja católica na produção dessa película, mas é clara a propaganda exculpatória. Em determinado momento do filme, levanta-se a hipótese de que um dos maiores inquisidores espanhóis – e lembremos que a inquisição espanhola foi a mais perversa – teria sido possuído pelo demônio Asmodeus. Desta forma a congregação da doutrina e da fé teria sido pervertida e, por isso, perpetrado as maiores barbaridades “em nome de deus”.
Exorcista do Papa
Tirando isso, é uma sucessão de clichês desses filmes de demônio: cortes na pele, olhos vermelhos, pessoas falando em línguas desconhecidas, vozes tonitruantes, pessoas voando pelos quartos e sendo atiradas contra a parede, ruídos, e, por fim, como já era de se esperar, o demônio se apossa do exorcista. De todo modo, é bom de ver, prestando atenção às sutilezas filosóficas do exorcista vivido por Crowe, linhas de texto bastante perspicazes e reveladoras.
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Uma resposta
Amo esses filmes,e esse claro que vou assistir 😉