Como crer num Deus abrâmico, se ele permite a atuação de seu maior inimigo, o primeiro criado e que, depois da criação da humanidade se tornou invejoso e revoltado?
A premissa do seriado é a continuidade do filme de William Friedkin, estrelado por Ellen Bursty, Linda Blair e Jason Miller. Neste novo momento contemporâneo, Regan MacNeil, papel brilhantemente vivido pela pré-adolescente Linda Blair, profundamente convertida ao catolicismo, se torna Angela Rance. Angela é o papel de Geena Davis. Agora, o Capitão Howdy, demônio que a atormentou na infância, mira na filha mais velha do casal Angela e Henry Rance. Isso porque jamais aceitou a derrota para o Padre Karas.
Eu já falei sobre E Exorcista Original nesse post: clique aqui. O filme de 1973 foi um dos mais assustadores ao longo de muitos anos. Quando li o romance de William Blatty, em 1984, eu ainda não tinha visto o filme, por isso foi tão envolvente e surpreendente. Já o reli duas vezes no original e continuo achando um livro muito bem escrito.
Nada obstante, depois de ter atravessado o ateísmo e me convertido ao Candomblé de Angola, percebo o quanto a pessoa tem de ser católica para se assustar com aquilo. Eu, particularmente não acredito nem em bem nem em mal absolutos, pois a realidade nos mostra as zonas cinzentas entre um e outro conceito.
A série e a crítica à igreja católica
Nos primeiros episódios, a série é ainda leve, pois apenas somos apresentados aos personagens principais: a família Rance e o padre Thomas. Eles são devotos católicos que cumprem suas obrigações eclesiásticas com afinco. Lógico que, como são humanos, somos também apresentados às contradições.
De repente, a filha mais velha, Cassey Rance começa a apresentar um comportamento estranho. Por isso, Angela, que sabe as artimanhas já que ele a possuiu na pré-adolescência, reconhece a situação. Conhecemos, então, o outro padre, um irlandês, Marcus Keane, excomungado. Thomas é uma estrela em ascensão e se encontra com Marcus, em plena decadência, mas com uma força incrível. A curva dramática de ambos é impressionante.
Percebemos, portanto, o quanto a igreja católica está tomada por possuídos pelo tinhoso. São apresentadas altas autoridades eclesiásticas envolvidas num plano para assassinar o Papa em sua visita a Chicago. Este, também, foi tema de um outro post meu, clique aqui.
A segunda temporada
Na segunda temporada, acompanhamos as aventuras e desventuras da dupla de exorcistas pelo interior dos Estados Unidos. Isso porque são chamados a combater as forças demoníacas em diversas cidades. Nessa tarefa, encontram uma mãe com síndrome de Munchausen por proximidade, que engana a escola como se a filha estivesse possuída.
Solucionado o caso, a filha é levada para uma casa de abrigo de crianças na casa de Andy. Lá, ela conhecerá a nova família, mas o mal também está instalado. Thomas e Marcus vão, então, enfrentar novamente o diabo.
Enquanto isso, o diretor espiritual de Marcus também está enfrentando uma forte batalha, acompanhada por uma nova personagem, mouse, uma forte a serviço de Deus e contra o diabo. Eficaz na luta, ela é quem salva os dois.
Ao final, Marcus, que se achava abandonado por Deus, volta a sentir a presença dele. Eu fico sempre me perguntando, quando vejo esses filmes, sobre a força e a crença nesse Javé. Segundo a mitologia judaica, ele criou os anjos antes de criar o universo e, quando os humanos foram criados, Deus teria condenado os anjos ao inferno. Essa mitologia é tão cheia de falhas estruturais que me impressiona terem acreditado nela ao longo de mais de 2000 anos.
Para além disso, a minha crítica ao cristianismo institucionalizado passa também pela idolatria ao sofrimento e a tudo o que é antinatural. A felicidade, o gozo e o amor só são possíveis aos do andar de cima. Para os pobres, só o sofrimento e a espera pela “glória” de uma vida após a morte, que nem sabemos se haverá.
O seriado está disponível no Prime.