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Quilombo dos Palmares – Um mergulho na história e no axé

O ponto alto da minha viagem de férias a Alagoas foi a visita ao Quilombo dos Palmares. Quase na divisa com Pernambuco, a revitalização do Quilombo é incrível.

Quilombo

Vista aérea do Quilombo dos Palmares

Passei uma semana de merecidas férias nas Alagoas, terra de muitas belezas e muitos contrastes, pois a concentração de renda lá é vexaminosa. Poucos milionários e muita gente muito pobre. Mas as belezas naturais, no entanto, beiram o indescritível. Praias de águas cristalinas e mornas, coqueiros nas margens, enfim, paradisíaco, para usar o clichê.

O ponto alto da viagem foi a visita à Serra da Barriga, na localidade de União dos Palmares. A cidade tem menos de 100 mil habitantes e está encravada no sopé da serra que abrigou a “capital” do quilombo mais famoso da história do Brasil.

Turismo histórico, uma imersão cultural

Aliás, o receptivo da Luck Turismo (https://www.luckreceptivo.com.br/passeios/maceio) faz o traslado e é necessário pagar uma taxa ao guia local, Mano Gil, professor de capoeira e memória viva do local. Começamos já com um choque, porque não temos memória dos acontecimentos importantes da história do Brasil. Um dos mais marcantes, a derrocada de Palmares, por exemplo, nos passa batida: 6 de fevereiro de 1694.

A outra recuperação imprescindível é o protagonismo feminino na construção do espaço de aquilombamento, uma vez que foi Aqualtune, uma princesa bantu, revoltosa de um dos engenhos da região, a líder de outras 40 pessoas, a agregarem, naquelas paragens, com Acotirene, líder de uma tribo de população originária e darem início à construção do que seria, por mais de um século, uma espécie de país dentro da colônia.

Resgatando a memória do feminino – Aqualtune, a princesa quilombola

A princesa vem a ser a mãe de Nganga Nzumba, avó de Zumbi. Somente esses dois líderes, também importantes, são lembrados nos livros de história, isto porque os historiadores sempre apagam as personagens femininas imprescindíveis. Acotirene e Aqualtune se juntaram e deram as bases da formação política do quilombo mais resistente e mais famoso da América Latina.

O passeio prossegue e somos levados ao lugar de entrega de religião. Aliás, há uma construção em que estão assentados dois pretos-velhos, entidades sagradíssimas da Umbanda.

Com relação a esta religião, há uma controvérsia. Pois alguns datam a fundação no séc. XX, em Niterói, todavia, meu pai-de-santo, que era um homem de Umbanda das antigas, contava uma história diferente. O nascimento dessa manifestação religiosa, na verdade, remonta aos quilombos e era utilizada como forma de comunicação com os espíritos dos que se foram. Era assim que os escravizados ficavam sabendo notícias dalém mar.

O centro do quilombo, um palácio com o nome de coração

Mas voltando ao passeio, de lá, seguimos para o Muxima do Quilombo. Muxima é palavra Bantu e significa coração. O palácio fica no centro da reconstrução e era onde as decisões mais importantes eram discutidas. Chegando a um consenso, no entanto, um conselho de notáveis levava o decidido a Acotirene, na sala mais reservada e era a líder quem de fato apontava o caminho a ser tomado.

Outro ponto importante do roteiro é a lagoa sagrada. Ela se forma com água da chuva e é onde os habitantes do quilombo se conectam com a força de Oxum, para meditar e se banhar. Aliás, no dia do massacre perpetrado por Domingos Jorge Velho, as águas se cobriram de sangue do povo negro.

Lá, também, está a primeira gameleira branca plantada no Brasil. Já com mais de seiscentos anos, ela está fragilizada, mas a renovação já se faz presente e o passado e o futuro vegetal se entrelaçam.

A terra lá é de muito axé e, sem sombra de dúvidas, é onde o Brasil, enquanto nação, começa. A resistência por mais de um século daquele povo é inspiradora. Eles venceram, embora com menor número de guerreiros, todas as incursões dos brancos contra o Quilombo.

E a razão pela qual o governo colonial detestava tanto aquele agrupamento era, principalmente, porque era governado com justiça e sem obedecer a um rei absoluto. As decisões eram colegiadas, os líderes dos diversos mocambos se reuniam na já mencionada Muxima e debatiam. As opiniões eram ouvidas e levadas às líderes maiores.

por fim, a derrocada de Palmares

Foram diversas tentativas de derrotar os quilombolas, e só depois de mais de 100 anos de tentativas é que Domingos Jorge Velho, um grande estrategista português, conseguiu derrotar Zumbi. Aquele 6 de fevereiro de 1694 foi a data que encerrou a experiência revolucionária dos africanos trazidos para o Brasil.

Para completar, no final do passeio, Mãe Neide de Oxum nos recebe, no restaurante Baobá, que fica à margem da estrada. Excelente comida e uma dica imperdível para quem vai às Alagoas.

Mapa de palmares, no seu auge

Para saber mais, veja o episódio 2 de Guerras Brasileiras, disponível no Netflix:

https://www.netflix.com/br/title/81091385

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