duas coisas

Primeiro a decepção.

Gente, eu inventei uma história maluca de dar de presente, para minha afilhada e a irmã gêmea dela, um fim de semana aqui no Rio de Janeiro.  Fiquei tão entusiasmado, achando que seria a melhor coisa do mundo. Afinal, eu ADORO viajar – bem, ça vas sens dire, para quem acompanha o blog – e adoro conhecer lugares novos. Caí na armadilha de pensar que todo mundo gosta disso.

As meninas têm 13 anos, estão para fazer 14, e vivem em Goiás, na chamada Região Metropolitana do Distrito Federal, ou entorno de Brasília. É bom dizer que meu contato com elas jamais foi dos mais íntimos, dada a minha natural incompetência para lidar com crianças, mas mesmo assim, as via sempre e pensei que nos daríamos muito bem aqui, durante o final de semana, talvez sendo possível até me aproximar mais delas.

Não foi o caso. Elas pareceram detestar tudo! Todos os esforços que fiz para agradá-las foi em vão. Levei-as ao Cristo Redentor, que tem aquela vista maravilhosamente panorâmica de toda a cidade, sendo possível ver grande parte da Baía da Guanabara, três praias oceânicas do Rio – Copacabana, Ipanema e Leblon – e, mais lindo de tudo, aquela vista da Enseada de Botafogo, que é um deslumbramento constante. Claro que essas impressões são todas minhas, e cada um tem seu modo de ver a vida.

Essa é a enseada de Botafogo vista de baixo

Fomos de trenzinho, cujo trajeto é pela maior floresta urbana do planeta, com perspectivas surpreendentes da cidade. Elas mal se abalaram. Ao chegarmos ao topo, não sei se pela multidão aglomerada na plataforma da estátua do Cristo Redentor, parecia que estavam muito assustadas. Eu tentei mostrar a cidade, mas não havia empatia, interesse, retorno emocional. Não houve brilho nos olhos… Sabe quando você mostra uma coisa que você está amando para alguém e esse alguém acha completamente desinteressante? Bem, pois foi assim…

Depois fomos à praia de Copacabana. Era de tarde e eu não queria perder muito tempo no trajeto de ir a uma praia qualquer. Novamente, a resposta delas quando eu perguntava se estavam gostando era um frio “é”…

vista da pedra do Leme

Enfim, não fui muito feliz no presente. A culpa, lógico, é toda minha. Mas a lição foi aprendida.

A outra coisa, depois desse enorme desabafo, é sobre as notícias de campanhas políticas. A página 3 do Globo de hoje traz o seguinte título: Tudo é muito superficial. No soutien: Especialistas dizem que Serra e Dilma têm preferido bater boca a aprofundar debate.

Notícia , segundo o Houaiss, é:

Acepções
substantivo feminino
1    informação a respeito de acontecimento novo, de mudanças recentes em alguma situação, ou do estado em que se encontra algo; nova, novidade

Então, pelo requisito de novidade, nova, essa matéria nem deveria ter saído. É uma novidade que tem pelo menos 20 anos. Desde a volta das eleições diretas para presidente da república, o debate de ideias inexiste. Quem se recorda da primeira campanha, quando o Fernando Collor desenterrou a história da filha ilegítima do Lula? E nos pleitos seguintes, com o estrepitante sucesso do plano Real – cujos méritos não estão em discussão – FHC teve vitórias acachapantes em primeiro turno. As manchetes dos jornais das eleições de 2002 vão mostrar títulos e discussões se não idênticas, muito semelhantes às hodiernas. Chega a ser cansativo. O que realmente importa é sistematicamente ignorado.

Eu decidi votar na Marina Silva desde o momento em que ela se lançou candidata.  A oção nada teve de racional, foi puramente emocional. Além do assunto educação, a preservação do meio ambiente, juntamente com a revolução no comportamento consumista da sociedade atual, são temas aos quais tenho dedicado maior tempo de reflexão. A mim parece que Marina tem uma proposta mais semelhante aos meus anseios nesses campos do que os demais candidatos.

Também influenciou o fato dela ser mulher, apresentar uma alternativa ao atual governo e, principalmente, a possibilidade de forçar um segundo turno nessas eleições. Eu detestaria ver a Dilma ganhar em primeiro. Dá ao candidato uma aura de presunção de certeza e validade das propostas apresentadas que pode levar a um caminho tão desastroso quanto o segundo mandato do FHC.

Óbvio que, particularmente, é relativamente irrelevante quem ocupa a presidência. Nossos cotidianos e comezinhos problemas são muito pouco afetados pelas grandes decisões e negociações que envolvem a Nação. A nós deveria ser muito mais importante, mais instigante, as eleições para prefeito e vereador, cuidadores do município. Mas temos ainda muito a aprender na seara política. Pensamos que se a ponte cai no córrego da vizinhança, a culpa é do Presidente da República.

Espero que meus 17 leitores sintam-se tocados por essas palavras e reflitam – ao contrário do que eu fiz – quando decidirem em quem votarão.

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