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CINEMA

Um cineasta genial

O cinema é uma arte bem interessante. Bebe na fonte da literatura, das artes plásticas, da música e, principalmente, do teatro, mas se transforma em uma arte própria, com linguagem e técnicas próprias, relação idiossincrática com os admiradores, enfim, tudo o que faz da arte ARTE. Mas para além disso, o Cinema também é uma espécie de fábrica de sonhos, de fantasias e uma bela vitrine de venda de produtos. Especialmente a indústria hollywoodiana. Mas nem sempre foi assim. Houve um tempo em que a arte, mesmo a produzida em grandes estúdios dos EUAN, eram devotados à arte de contar uma boa história, o que, ao fim e ao cabo, é a proposta das artes dramáticas. E dentre os diversos realizadores que trouxeram essa arte à excelência, um inglês rechonchudo tem lugar de destaque.

Alfred Hitchcock é o nome de um diretor brilhante. Há uma frase na coletânea do “Melhor do Mau Humor” Livro do Ruy Castro na qual o diretor britânico revela um pouco da relação dele com os atores em cena: “Eu não disse que os atores são gado, disse que devem ser tratados como gado”.  Fico pensando em como Kim Novak, James Stewart, Grace Kelly, Paul Newman, Cary Grant e outras grandes estrelas cinematográficas se sentiam sob a batuta dele.

Mas, maus humores à parte, o legado do gênio é de uma contribuição intensa. Começou no cinema britânico, ainda na década de 20 do século passado, no cinema mudo. A carreira dele é intensa, uma filmografia com mais de 50 películas, nas quais eventualmente aparece:

Number 13 (1922)

Always Tell Your Wife (1923)

The Pleasure Garden (1925)

The Mountain Eagle (1926)

The Lodger: A Story of the London Fog (1927)

The Ring (1927)

Downhill (1927)

The Farmer’s Wife (1928)

Easy Virtue (1928)

Champagne (1928)

The Manxman (1929)

Blackmail (1929)

Juno and the Paycock (1930)

Murder! (1930)

Elstree Calling (1930)

The Skin Game (1931)

Mary (1931)

Rich and Strange (1931)

Number Seventeen (1932)

Waltzes from Vienna (1934)

The Man Who Knew Too Much (1934)

The 39 Steps (1935)

Secret Agent (1936)

Sabotage (1936)

Young and Innocent (1937)

The Lady Vanishes (1938)

Jamaica Inn (1939)

Rebecca (1940)

Foreign Correspondent (1940)

Mr. & Mrs. Smith (1941)

Suspicion (1941)

Saboteur (1942)

Shadow of a Doubt (1943)

Lifeboat (1944)

Aventure Malgache (1944, short)

Bon Voyage (1944, short)

Spellbound (1945)

Notorious (1946)

The Paradine Case (1947)

Rope (1948)

Under Capricorn (1949)

Stage Fright (1950)

Strangers on a Train (1951)

I Confess (1953)

Dial M for Murder (1954)

Rear Window (1954)

To Catch a Thief (1955)

The Trouble with Harry (1955)

The Man Who Knew Too Much (1956)

The Wrong Man (1956)

Vertigo (1958)

North by Northwest (1959)

Psycho (1960)

The Birds (1963)

Marnie (1964)

Torn Curtain (1966)

Topaz (1969)

Frenzy (1972)

Family Plot (1976)

(fonte: Wikipedia)

Nem todos estão disponíveis nos streamings, mas é possível encontrá-los em pesquisas pela rede.

Resolvi falar sobre ele porque o TeleCine, recentemente, transmitiu um dos que mais gosto. Um filme de 1955, chamado The Trouble With Harry, traduzido por O Terceiro Tiro. Me lembro de tê-lo visto pela primeira vez num festival Hitchcock feito na década de 90 na cinemateca da Cultura Inglesa em Brasília. Mas me adianto. Antes quero falar do gênio de suspense em que o cineasta se consagrou. Acho que Psicose é o filme mais famoso dele. A cena do banheiro, os ângulos, a música, a cara icônica de Janet Leigh, a trama sinistra e o brilhantismo da interpretação de Anthony Perkins no papel de Norman Bates são ingredientes infalíveis. Mas, para além disso, a forma narrativa também é inovadora. Os planos seqüência interessantíssimos e o fato de ser em preto e branco, que requer uma fotografia primorosa, tudo isso faz dele um dos mais memoráveis filmes da história do cinema. É também digno de nota que o filme foi rodado em 1960, quando o uso da cor era mais que comum. A opção dramática pelo P&B é essencial para a linguagem de Hitchcock.

Depois é bom lembrar de Festim Diabólico. Deste, a carpintaria dramática é o mais impressionante. O título original é The Rope, ou seja, A Corda. Prosaico demais para nossos olhos latinos e dramáticos. Festim Diabólico me soa melhor mesmo. Não falarei nem da sinopse, para não dar spoiler para os possíveis espectadores incautos, mas, quem ainda não viu, ou quem já viu e ainda não se ligou, preste bem atenção aos planos. São poucos os cortes e a cena toda se desenvolve quase como se fosse uma peça teatral filmada ao vivo. Só por isso este filme merece uma página de destaque na história do cinema, mas para além disso, não podemos deixar de mencionar as excelentes atuações de James Stewart e Constance Collier. São magistrais.

Um outro filme pouco comentado, mas também com uma trama sensacional é Disque M para Matar. A tradução literal do título em inglês Dial M for Murder. Neste filme o melhor é o ponto de virada. Uma sacada genial para dar um rumo surpreendente para a história. Grace Kelly, que também brilha em Janela Indiscreta, está simplesmente deslumbrante no papel de Margot.

E por falar em elenco belo, Cortina Rasgada traz o belíssimo Paul Newman, que faz par com a talentosíssima e ainda quase adolescente Julie Andrews. Ele é um professor de física que finge passar para o lado dos comunistas e a trama de espionagem é intensamente eletrizante. Não gosto muito desse roteiro, meio panfletário para o lado do capitalismo, mas o desenvolvimento das cenas é magistral. Destaque para Lila Kedrova, no papel de uma condessa falida louca para sair do território de Berlim Oriental.

Volto agora ao título que me instigou a escrever este artigo: O Terceiro Tiro. Sob os efeitos de Psicose, Um Corpo que Cai, Festim Diabólico, esperávamos uma morbidez qualquer. Claro que se trata de morbidez, afinal há uma morte, mas qual não foi nossa surpresa quando percebemos que o filme é uma comédia hilariante. Revendo deu pra perceber melhor que até a floresta foi feita em estúdio, mas isso não empana o brilho da história contada de forma cômica. É o tipo de comédia que eu mais gosto: não se propõe a ser comédia, mas nós somos levados a rir pelo insólito e absurdo da situação.

Enfim, Hitchcock é um monstro do cinema e merece ser revisto e revisitado sempre.

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