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Quando dei fé, acordei hoje com a notícia de que o bostonarista Leite, governador eleito no Rio Grande do Sul, saiu do armário no programa do Pedro Bial – irrelevante por si só, este rapaz já devia ter se aposentado, mas agora faz esse programa de entrevistas cada vez menos importante, tarde da noite. O fato é que há um governador que foi eleito porque é branco, de direita, num Estado da Federação dominado por gente retrógrada, com uma pauta neoliberal, claro, porque é do PSDB, que já foi um dos piores partidos do Brasil, antes do aparecimento do PSL e do Novo, ganha as atenções de direita e de esquerda porque abriu a boca para confirmar o que todo mundo já sabia.

Por acaso, apareceu na minha TL do tuíter o trecho da entrevista. Eu estou me treinando no método do Lee Strassberg para atuação e, depois de apanhar muito, consigo reconhecer algumas emoções e suspeito que Eduardo Leite estava tentando esconder um enorme constrangimento ao dizer o que disse. Arrisco dizer que a jogada foi armada pelos caciques do partido, juntamente com grandes dos meios de comunicação para emplacar uma candidatura alternativa ao Lula, já que o bostanaro está derretendo mais rápido que sorvete no verão de Copacabana.

Arrisco essa afirmação porque o constrangimento do rapaz era notório, patente. Reparando bem, uns tremores de bochecha, uns esgares labiais bem discretos, mas visíveis, e um olhar que buscava se fixar num ponto, para não se perder no raciocínio.

E eu estou escrevendo sobre esse “outing”, essa saída de armário tão desnecessária, porque anteontem publiquei um texto neste mesmo espaço sobre como foi a minha vida. Sou um homem gay, cis, branco e de classe média. Os esforços da minha família me fizeram uma pessoa privilegiada, que jamais teve de se preocupar com o próximo prato de comida, nem se a conta de luz estaria paga, porque sempre tive tudo na mão. Meu dever era estudar, e isso fiz.

Eduardo Leite, leio na wikipédia, nasceu em 1985, ano em que eu já estava me preparando para sair de casa, com emprego conquistado por meio de concurso público em Brasília. Pelo que se pode escavar na internet, tem um pai que foi formado em Direito e Filosofia, com especializações realizadas fora do Brasil. Ou seja, foi também um privilegiado. E para assumir a própria sexualidade, já dispunha de um caminho aberto a força pelas pocs e pintosas, caminhoneiras e travestis da minha geração e das gerações anteriores. Ele sair hoje do armário, já aos 36 anos, não é sinal de coragem e, por isso, me parece muito com uma jogada comercial/eleitoreira.

Pronto, desabafei. Isso estava me travando na garganta, porque foi um assunto comentado demais. Atacado por setores de esquerda e de direita e incensado por parte desses mesmos campos, e sempre, na minha visão, por motivos equivocados.

A sexualidade de cada um é de ordem privada e do campo da intimidade. Não diz respeito a caráter nem compromisso com as causas públicas mais importantes e isso já foi afirmado e reafirmado por vozes até mais gabaritadas que a minha, mas eu também não podia deixar de me expressar.

3 respostas

  1. Adorei!!! Jogada de marketing que vai funcionar, mas que a meu ver é cruel e suja por usar uma causa ainda muito dura e sofrida.

  2. Sem dúvida foi uma ação política calculadíssima. Só me pergunto se tem chance de sucesso nessa época de trevas. Não que eu o apoie, evidentemente.

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