O racismo é um problema mundial e ontem assistimos atônitos a uma abordagem racista e absolutamente desnecessária, a uma autoridade do Paraná, numa aeronave que ia de Foz do Iguaçu para Curitiba.
Renato Freitas foi vítima de racismo
Eu sou passageiro freqüente. Desde que me mudei para o Rio de Janeiro, em 2007, devo ter tomado, sei lá, pelo menos 8 voos por ano. Nos tempos sombrios da crise sanitária e financeira, diminuí. Agora que trabalho remotamente, pelo menos 4 vezes por ano eu embarco num avião no trecho Brasília-Rio de Janeiro. Ou seja, muito mais de 100 vezes que subi em aeronaves e NUNCA, JAMAIS vi uma abordagem do tipo que foi feita com o Deputado Estadual Renato Freitas, do Paraná.
É bem certo que o deputado é um político que incomoda profundamente as elites legislativas estaduais daquela região repleta de nazifascistas e supremacistas brancos. Jovem, preto, periférico, ele ostenta orgulhosamente, como deve ser, uma cabeleira Black Power e um jeito de falar corajoso e direto. Esses atributos chocam a burguesia branca, acostumada com a obediência.
A cena é grotesca. Policiais federais abordam o deputado, o retiram da aeronave e revistam a mochila de mão, depois fazem um baculejo nele. Alegam ser uma revista aleatória, promovida por um sistema que escolhe um passageiro. O racismo culpa o sistema, mas precisamos lembrar que nenhuma IA iniciaria um baculejo em algum passageiro de avião sem que essa escolha fosse acionada pelo dedo de uma pessoa racista.
O racismo ainda é uma chaga profunda no Brasil
Tudo isso me faz lembrar as mais diversas manifestações que nos acompanham diariamente: os 80 tiros no músico que levava as crianças, o fuzilamento de cinco jovens no chapadão, diversas crianças atingidas por balas “perdidas”. Sobre isso, leio no site da CNN Brasil (https://www.cnnbrasil.com.br/nacional/em-5-anos-103-criancas-foram-baleadas-e-30-morreram-vitimas-da-violencia-no-rio/) que em um lustro, mais de 100 crianças foram vítima de violência no Rio de Janeiro. Se compararmos com o índice nacional, parece pouco, porque no site da UNICEF, (https://www.unicef.org/brazil/comunicados-de-imprensa/nos-ultimos-cinco-anos-35-mil-criancas-e-adolescentes-foram-mortos-de-forma-violenta-no-brasil) veremos que no País todo, 35 mil crianças foram vítimas.
Não há nesses artigos um recorte de raça, mas pelas estatísticas, podemos inferir a cor da pele da maioria das vítimas.
Some-se a isso a cena grotesca da “atleta” chicoteando um entregador negro numa calçada da Zona Sul carioca, a violência da GOL, retirando Samantha Vitena e a fazendo assinar um boletim de ocorrência, atrasando a vida de todos os demais passageiros do voo por um motivo absolutamente irrelevante.
Enquanto isso, peço a Xangô/Nzaze que nos proteja e nos traga a justiça que merecemos.
Ou seja: o Brasil tem muito o que caminhar no que diz respeito ao aprendizado e ao letramento racial.